O CRIADOR DE CÃES DEVE FIXAR, EM SEU PLANTEL, AS MELHORES CARACTERÍSTICAS EXIGIDAS PELO PADRÃO OFICIAL DA RAÇA.
Tenho sustentado, ao
longo de quase 24 anos de criação, a necessidade de que os verdadeiros
criadores de cães estabeleçam uma estratégia de acasalamentos para que constituam
uma “linha de sangue”. Para isto, se fazem necessárias várias gerações de
acasalamento em linha (“line breeding), bem estudados para evitar ao máximo os
danos que podem ocorrer da consanguinidade.
Notem que as próprias
raças caninas só foram criadas porque biólogos, veterinários e criadores
estudiosos fizeram acasalamentos reiterados entre parentes, buscando lograr
homozigotos nas características morfológicas da raça que se buscava criar,
trabalhando com as probabilidades estatísticas.
Em nossa realidade, na
maioria das raças já reconhecidas, percebe-se uma grande falta de planejamento
técnico ou científico na criação canina em nosso país. Falta conhecimento básico
de genética, experiência e o estabelecimento de uma estratégia de médio prazo.
Em princípio, acho difícil estabelecer uma verdadeira “linha de sangue” senão
após quatro gerações bem pensadas e corretamente articuladas.
Fenótipo e genético devem
ser objetos de observações e reflexões. O fenótipo deve obedecer, rigorosamente,
ao disposto no padrão oficial da raça. Fora do padrão, não há salvação!!! Fora
do padrão oficial, não há raça canina!!!
Talvez se possa dizer
que, sem a fixação das boas características em seu plantel, o criador se torna
apenas um “jogador”, baseando as suas proles em sorte ou azar, com ninhadas
heterogêneas. Mesmo um filhote que venha a ter um excelente fenótipo, não sendo
homozigoto, pode não passar para a sua prole as características morfológicas
desejáveis, bem como o temperamento exigido pela raça canina.
Desde sempre, a criação nacional
se deixou levar pelos interesses financeiros e pela busca de resultados em
exposições caninas, em melhores colocações nos vários rankings. Criadores buscam
acasalar a sua fêmea com um belo cão importado ou com um macho que se destacou
em algumas exposições de beleza. Considera-se apenas o fenótipo do macho e da
sua matriz. Alguns dizem que têm agora esta ou aquela “linha de sangue” (sic).
Esta assertiva, resulta
de puro e absoluto engano. Podem estes criadores obter, sim, alguns bons
filhotes nesta prole, mas quase todos heterozigotos, vale dizer, geneticamente
fracos, com genes ruins cobertos por genes dominantes.
Importante notar que, no
futuro acasalamento de um destes filhotes, pode ele transmitir o defeito que não
se manifestava no fenótipo, por estar oculto por genes dominantes. O mesmo se
diga em relação ao outro cão deste acasalamento.
Em resumo: um cão, um
acasalamento, não fixa características no plantel do criador, não estabelece
uma “linha de sangue”. Isto é só o começo de uma longa jornada, de uma longa, prazerosa
e sedutora jornada.
Melhor do que ter um grande
campeão heterozigoto é ter proles com prováveis grandes campeões homozigotos. Sem
o estabelecimento de uma “linha de sangue”, por mais correto que seja o acasalamento,
em pouco tempo tudo estará perdido, pois os descendentes não terão necessariamente
recebido os bons genes daquele primitivo acasalamento.
Por derradeiro, talvez
possamos dizer que só existe verdadeira e correta criação de uma determinada
raça canina se existir sólida “linha de sangue”, permitindo ao atento observador,
desde logo, identificar de onde procede este ou aquele cão, pois ele reflete as
características próprias deste ou daquele criador.
Afranio Silva Jardim,
criador de cães há cerca de 24 anos. Autor de livro sobre o padrão da raça
rottweiler.
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