ROTTWEILER: A RELATIVA IMPORTÃNCIA DOS "TREINOS DE ATAQUE”.

 

O padrão oficial da raça dispõe que o rottweiler é um cão de guarda. Na verdade, tal padrão usa a palavra proteção, que abrange a pessoal e a patrimonial.

Neste mesmo texto, o padrão ressalta ainda que o rottweiler é “altamente indicado como cão de companhia, resgate e utilidade”. A toda evidência, estas quatro características não se opõem, mas, ao contrário, devem ser complementárias.

Quando cuida especificamente do temperamento/comportamento, o referido padrão dispõe que “o rottweiler é basicamente amigável e pacífico ... e, ao mesmo tempo, equilibrado”.

Importante notar, ainda, que o padrão da nossa raça elenca, como faltas desqualificantes, a agressividade, a ansiedade e o nervosismo do  rottweiler. Pune igualmente o cão tímido e covarde, dentre outros defeitos estranhos ao que aqui se cuida.

Partindo destas regras rácicas, somos instigados a uma indagação: por que submeter o rottweiler a constantes treinos de ataque, sendo ele estimulado a atacar a luva de proteção de um adestrador (figurante)? Tal treinamento também é usado em diversas outras raças tidas como de guarda/proteção.

Terá alguma serventia treinar o rottweiler para ser agressivo em situações específicas, sempre sob controle de um experiente profissional?

Algumas reflexões merecem ser explicitadas aqui, conforme se faz abaixo. Há aspectos positivos e outros, nem tanto ...

Inicialmente é de relevo acentuar que aquilo que se aprende socialmente não se incorpora geneticamente ao animal, humano ou canino. Isto restou demonstrado desde a origem da “teoria da evolução” de Darwin, no século XIX. Vale dizer, o conhecimento absorvido na vida de relação social não se transmite geneticamente aos descendentes. Falando vulgarmente: o aprendizado de um ser não se incorpora ao seu DNA.

Em outra perspectiva, pode-se afirmar que o cão nasce com a herança de seus ascendentes e dentro dela não se encontra o que eles aprenderam no passado.

Desta forma, tais treinos chamados de ataque não criam novo temperamento nos rottweilers, não criam um temperamento mais assertivo e corajoso no cão. Eles podem fazer aparecer o que estava oculto por questões psicológicas ou sociais (traumas infantis, inibições por vários motivos, etc).

Assim, este treinamento pode explicitar (declarar) e não constituir o desejado temperamento que proporcionará o comportamento adequado à desejada guarda.

A toda evidência, há utilidade em se constatar o potencial de guarda/proteção de um determinado rottweiler. Para o criador, é importante melhor conhecimento sobre o temperamento (drive) de seus exemplares, principalmente, para a seleção dos cães, visando futuros acasalamentos.  Entretanto, julgo que a relevância do treinamento não vai muito além disso.

Embora não seja especializado em etologia, minha experiência sugere que a agressividade do cão é algo que ele adquire por hereditariedade genética, sendo preservada pelo correto manejo do animal. Parcial isolamento do rottweiler e uma restrita sociabilidade podem ser mais eficazes para a tarefa ou função de guarda. Até porque, estes treinamentos acabam por criar o chamado “reflexo condicionado”, pois o cão é estimulado a só e sempre morder a luva do treinador (figurante).

Por tudo isso, entendo que o contato quase diário do criador com seus cães lhe permite, no mais das vezes, ter uma avaliação bem precisa do temperamento dos rottweilers, lhe fornecendo seguro conhecimento para as escolhas dos exemplares de seus acasalamentos.

Desta forma, podemos dizer que os treinamentos de ataque podem ser úteis, mas não necessários, não indispensáveis.

Este raciocínio vale também para provas técnicas sobre o temperamento do rottweiler. Elas apenas declaram o que o criador arguto e experiente já sabe através do manejo de seus cães.

Como não mais preciso provar nada a outrem, até mesmo pela minha idade mais avançada, não submeto meus rottweiler a estas práticas, embora não tenha qualquer censura a quem assim o faça.

 

Primavera do ano 2025

Afranio Silva Jardim, criador de cães de raça há mais de 25 ano. Autor do livro "Rottweiler, Estudos sobre o Padrão Oficial", Editora Lumen Juris.

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