EQUÍVOCOS REITERADOS EM JULGAMENTOS NAS EXPOSIÇÕES DE CÃES PODEM LEVAR À DESCARACTERIZAÇÃO DE UMA DETERMINADA RAÇA. PROPOSTA DE UMA NOVA FORMA PARA SELEÇÃO DO JUÍZES.
Embora saiba que possamos
estar criando inimizades ou constrangimentos, estou colocando, no Instagram, o
seguinte breve texto, com exclusiva finalidade de alertar os novos criadores e o
público em geral:
“A raça
rottweiler está sendo descaracterizada!!! Alguns juízes de cães têm grande
responsabilidade nisso, pois estão premiando cães fora do padrão oficial da
raça, fingindo não ver os seus focinhos curtos e arrebitados. Alguns exageros
chegam mesmo à atipicidade do cão. É um absurdo um rottweiler com a cara de
Pug!!! Com o escopo de tentar evitar esta distorção deletéria, escrevi e
publiquei este ano um livro sobre o padrão do rottweiler (Editora Lumen Juris)”.
Também no meu blogue,
venho combatendo esta falta de atenção ao padrão oficial da raça rottweiler,
que foi modificado no ano 2018. Vejam: caniljardimsilva.blogspot.com
Para evitar que este
“mal” se alastre, seria importante que os Clubes Especializados e o Conselho
Nacional da Raça Rottweiler esclarecessem o público leigo sobre a necessidade
de se obedecer às regras do padrão.
Nós mesmos, criadores,
não deveríamos ficar inertes. Precisamos levar aos juízes o nosso descontentamento.
Quando se trata de salvar a raça rottweiler, nossos interesses pessoais devem
ficar em segundo plano!!!
Notem que podemos chegar
ao ponto em que pode ficar impossível o retorno às características da raça
rottweiler.
Todos e todas sabemos
que alguns juízes e algumas juízas de cães, para serem novamente convidados/as,
não caindo no ostracismo, precisam agradar determinados setores ou segmentos da
cinofilia. Ao menos, não desejam desagradar criadores e dirigentes famosos ou
importantes.
Assim, nossa correta,
ética e civilizada “pressão” pode neutralizar estes desvios, que tanto
desestimulam os novos criadores e prejudicam a correta criação da raça
rottweiler.
Demos apenas um exemplo
peculiar a uma raça canina específica, mas o problema apontado pode se ampliado
para muitas outras raças.
O grande público, que
irá adquirir futuros filhotes, desconhecendo até mesmo a existência de padrões
escritos de todas as raças reconhecidas pela Confederação Brasileira de
Cinofilia (CBKC), acaba por privilegiar animais cujos pais são apresentados, pela
imprensa e redes sociais, como premiados nas exposições de beleza. Estabelecendo
um ciclo perverso para a pureza das raças.
Notem que virou praxe,
nos anúncios para venda de filhotes, vincular o título obtido nas exposições
com o respectivo país, o que pode induzir
o comprador a erro. Por exemplo: divulga-se um acasalamento afirmando que os
pais são “Campões Brasileiros”, quando, na verdade, ele foram “Campeões” no
Brasil ou em algum outro país. Na verdade, apenas obtiveram a quantidade exigida
de CACs. Podem até não terem concorrido com qualquer outro cão ... A ética é
fundamental em todas as atividade de nossa vida.
Assim, além de outras
consequências negativas, o mau julgamento dos árbitros nas exposições de beleza,
tem esta consequência deletéria, prejudicando o correto aprimoramento da
criação dos cães de raça, que depende sempre da obediência rigorosa às
características descritas nos respetivos padrões oficiais.
Não se duvida ser impossível
evitar julgamentos errados, até por que são humanos e neles intervém vários
fatores adversos e a quantidade de regras dos padrões que devem ser
considerados pelos árbitros, em decisões rápidas e constantes, ao longo de
quase todo um cansativo dia de exposições. Entretanto, cabe criar condições
objetivas para minorar estes erros, vale dizer, procurar diminuir a quantidade
de julgamentos equivocados, tudo com vistas a não prejudicar a qualidade da cinófila
pátria.
Da minha experiência
profissional na área jurídica, do sistema judicial, trago uma proposta para
aprimoramento das nossas exposições de cães: os juízes não devem ser escolhidos
por que quer que seja. As suas indicações não podem ficar dependendo de ter
agradado ou não os diretores dos clubes ou os mais renomados criadores,
conforme nos referimos acima.
Para evitar a esta
imponderável escolha dos árbitros, só temos uma solução, aqui apresentada de
forma genérica: o sorteio de juízes (e suplentes), procedido publicamente pela
internet e trinta dias antes das exposições.
Com o objetivo de facilitar
o deslocamento e as correspondentes despesas, os juízes teriam de se cadastrar,
no início do ano, nas regiões do país (no máximo duas) que desejariam atuar nas
respectivas exposições de beleza ou trabalho.
Detalhada regulamentação
normativa da CBKC teria de prever situações específicas desta forma de recrutar
os juízes, bem como disciplinar a seleção de juízes estrangeiros para aqui
julgar, sempre através de alguma forma de sorteio.
O sugerido sorteio teria
uma outra vantagem: evitar que um juiz fique no ostracismo por ser mais
rigoroso ou por não privilegiar alguns dirigentes de clube ou criadores mais
influentes.
Na situação atual, em
tese, um árbitro aprovado em provas pela CBKC pode não ser jamais ser convidado
para realizar sequer um julgamento, tendo em vista as escolhas subjetivas.
Enfim, não temos a ingenuidade
ou ilusão de que a proposta venha a ser aceita e implementada a curso prazo,
pois quem detém o poder dele não abre mão facilmente. Entretanto, estamos
plantando uma “semente” na esperança de que, em algum dia do futuro, ela possa vir
a ser germinada.
Afranio Silva Jardim, criador
de cães, com 24 anos na cinofilia.
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