A BOCA DO ROTTWEILER SEGUNDOAS EXIGÊNCIAS DO SEU PADRÃO OFICIAL
Este singelo e breve
texto, como tantos outros que tenho escrito ultimamente, tem como escopo
detalhar algumas das características explicitadas pelo padrão oficial da raça
rottweiler.
Há meses, procedi a um
amplo comentário, de forma sistemática e original, ao mencionado padrão rácico,
consoante se vê do primeiro capítulo do meu livro publicado pela Editora Lumen
Juris, intitulado “Rottweiler, Estudos sobre o padrão oficial”. Textos menores
podem ser encontrados no meu blogue: caniljardimsilva.blogspot.com
Aqui desejo chamar a
atenção para algumas características do padrão em relação à boca do rottweiler,
muitas das quais não têm merecido a atenção dos juízes nas exposições caninas.
Por outro lado, alguns árbitros tratam como falta características apenas
indesejáveis. Reconheço as dificuldades
dos juízes, tendo em vista a grande dinâmica das exposições de beleza e mesmo o
risco de acessar a boca de um rottweiler.
Assim, na verdade, o
público alvo é o novo criador e o público leigo em geral. Não tenho a pretensão
de ensinar aos mais experientes ou estudiosos, até porque este texto está longe
de esgotar o tema nele tratado.
Começo chamando a
atenção para a coloração dos lábios do rottweiler: eles devem ser pretos, sendo
consideradas faltas os lábios cor-de-rosa ou manchados. Notem que, pelo padrão
da raça, trata-se de falta não grave.
Notem ainda que o padrão
expressamente exige “lábios ajustados”, “comissura labial não visível”, pois são
faltas os “lábios pendulosos” e “comissuras labiais visíveis”. Estes defeitos
são comuns em rottweiler “muito molossóide e de aparência geral pesada”,
características estas que são faltas graves, segundo a reforma do padrão de
2018.
Cabe ressaltar que a
descoloração das gengivas não pode ser considerada falta, sequer falta leve.
Pode ser sim levada em consideração para o desempate nos julgamentos entre dois
cães que se equivalem. O padrão rácico é claro ao dizer que as gengivas claras
são apenas indesejáveis, em uma interpretação a “contrario senso”. Diz o
texto oficial: “gengivas tão escuras quanto possível”.
Na extremidade da cana
nasal, está situada a trufa do cão, que deve ser escura. Embora isto não esteja
dito na parte descritiva do padrão rácico, fica depreendido do elenco de
faltas, pois ali está elencada como falta “trufa clara ou manchada”.
O rottweiler deve ter
todos os dentes comuns a todas as raças caninas. A falta de apenas um dente é
fator desqualificante do cão. Algumas outras raças admitem a falta de um
pré-molar.
Julgo que não incide,
nesta desqualificante, a existência de dentes em maior número, quando o chamado
“dente de leite” não cede o seu espaço. Isto tem ocorrido com os incisivos.
Neste caso, a toda evidência, não temos falta dentária, e o defeito não deve
ser considerado sequer uma falta, caso a duplicidade não estiver criando uma
mordedura em torquês. Será apenas uma má oclusão dentária.
São quarenta e dois
dentes: vinte no maxilar superior e vinte e dois no maxilar inferior. No
maxilar, superior teremos 6 incisivos, 2 caninos, 8 pré-molares e 4 molares. No
maxilar inferior, teremos apenas uma diferença: 2 molares a mais.
O padrão dispõe
expressamente que a mordedura do rottweiler deve ser em tesoura, ou seja, os
incisivos superiores sobrepondo-se ajustados aos incisivos inferiores”. A
mordedura em pinça ou torquês é considerada falta pelo citado padrão da nossa
raça. Falta não grave, como ocorre em padrões de outras raças.
Notem que, para a
caracterização da mordedura em torquês, é importante também examinar o encaixe
dos caninos, pois o exame apenas dos incisivos pode levar à confusão com a
chamada má oclusão dentária. Os caninos devem estar ajustados, sendo que o
canino do maxilar superior deve estar situado atrás do canino do maxilar inferior
(mandíbula).
Um importante defeito na
morfologia dentária é a falta de alinhamento dos dentes molares, muito comum
nas cabeças muito largas e com focinhos curtos (braquicéfala ou com índice
cefálico próximo deste tipo de cabeça). Este defeito foi incluído no texto do padrão
na reforma de 2018 e está assim consignado: “molares da mandíbula não se
perfilam em linha”.
Embora se cuide de falta
não grave, é importante notar que este desalinhamento extremo dos molares pode
afetar a saúde ou o bem estar do cão e, neste caso, pode ser considerada como
falta grave, pois o padrão dispõe, antes de elencar as várias faltas: ”Qualquer
desvio dos termos deste padrão deve ser considerado como falta e penalizado na
exata proporção de sua gravidade e seus efeitos na saúde e bem-estar do cão”.
Finalmente, cabe
mencionar um sério problema na mordedura do rottweiler, felizmente não muito
comum. O padrão é expresso e cogente, dispondo ser falta desqualificante o
prognatismo superior ou o prognatismo inferior. O padrão não distingue o
prognatismo ósseo do prognatismo dentário, devendo ser aplicada a regra de
hermenêutica: “onde o legislador não distingue, não cabe ao intérprete
distinguir”.
No prognatismo dentário,
a boca do cão não fecha corretamente, tendo em vista que os pré-molares se
encontram em posição coincidente com o seu correspondente do maxilar inferior
(mandíbula). Isto também afetará a correta articulação dos incisivos.
Já no prognatismo ósseo
temos os maxilares com tamanhos diferentes, afetando diretamente a correta
articulação dos dentes caninos. Ora o maxilar superior é mais longo que a
mandíbula, ora ocorre o inverso.
Diferente é a chamada
torção de mandíbula, que também é falta desqualificante do rottweiler. Nesta
hipótese, os maxilares não têm a mesma largura ou a mandíbula está mais ao lado
do maxilar superior, não havendo correta sintonia e coincidência entre os
maxilares. Aqui, os dentes caninos ficarão desalinhados, um mais para fora e o
outro mais para dentro da boca, do outro lado. Desta forma, um dos caninos pode
lesionar o céu da boca do cão. Defeito gravíssimo, porém, muito mais raro.
Termino exortando a
todos que lidem com cães de raça: não deixem de estudar detalhadamente e
sistematicamente o padrão oficial da raça, criando em total consonância com
ele. Se cada um criar segundo o seu gosto pessoal, a raça acabará descaracterizada. Sem tipicidade, não
há raça canina.
Afranio Silva Jardim, há
mais de 23 anos na cinofilia, titular do Canil Jardim Silva, registrado na CBKC
sob o n.1759/2000. Autor de livro sobre o padrão da raça rottweiler. Professor
Universitário (Uerj – aposentado).
Comentários
Postar um comentário