O EXAME TÉCNICO DO CÃO EM “STAY” PRESSUPÕE UMA CORRETA DISTRIBUIÇÃO DE SEU PESO CORPORAL
Acho que não direi nada
de novo. Entretanto, por vezes, o óbvio precisa ser dito e constantemente lembrado.
Vai aqui uma espécie de
crítica à maneira como, por alguns juízes, os rottweilers estão sendo
examinados, nas chamadas exposições especializadas, realizadas pelos clubes
filiados à CBKC. Lógico que sempre encontraremos as famosas exceções...
Importante notar que
estamos nos referindo ao exame morfológico do cão parado, em “stay”. A
avaliação do rottweiler em movimento também mereceria algumas considerações,
mas isto ficará para oportunidade futura.
Quero aqui realçar a
necessidade, para um melhor exame técnico, de que o rottweiler em “stay” esteja
com o seu peso corporal devidamente distribuído, sem que haja deslocação do seu
centro de gravidade. O corpo do cão é um verdadeiro sistema e a alteração de
uma de suas partes acaba se refletindo no todo.
Temos observado, em
algumas exposições caninas que o cão instintivamente projeta o seu peso para um
lado, quase sempre se aproximando da perna daquele que o está apresentando (handler).
Isto se dá por vários motivos que aqui não cabe analisar, mas afeição,
confiança ou insegurança podem ser alguns deles.
Ora, se o peso do cão se
desloca para um lado, os membros do lado oposto tendem a ficar menos aderentes
ao solo, podendo deslocá-los da posição mais correta, segundo suas angulações. Por
isso, algumas vezes, constatamos que, em várias oportunidades, o cão estica
indevidamente o seu membro traseiro posterior, escondendo as suas importantes
angulações. O aprumo dos membros dianteiros também pode ficar comprometido de
alguma forma.
Este necessário
equilíbrio se torna mais prejudicado ainda quando, nas exposições especializadas
da raça rottweiler, os cães são estimulados a se projetarem para a frente,
através de exibições de bolas, petiscos ou outros instrumentos de treinamento.
Com este indevido procedimento, busca-se colocar o cão em alerta, melhor
demonstrando e acentuando a sua expressão facial.
Fica evidente que os
árbitros, expositores e criadores estão privilegiando a parte frontal do rottweiler,
principalmente a sua cabeça, em detrimento do seu conjunto estrutural (linha
superior, profundidade de peito, inserção de cauda, angulações de sua parte
traseira, paralelismo dos membros posteriores, etc., etc., etc.).
Entretanto, a questão é
mais grave do que a falta de análise ou da superficial análise de toda a
morfologia do animal. O problema maior é que os rottweilers, ao se projetarem
para frente, conforme estimulados pelos auxiliares dos handlers, descolocam o
seu peso e ficam tecnicamente desequilibrados. Vale dizer, o seu centro de gravidade
é deslocado para frente e o cão perde a harmonia que deve existir em todas as
suas partes.
Por este motivo, é comum
vermos a total falta de paralelismo dos membros posteriores dos rottweilers
quando, nas exposições especializadas, após aquela absurda correria, são
colocados em paralelo para exame e decisão final dos juízes. Neste momento, os
cães ficam totalmente descompostos, nervosos e ansiosos (o padrão expressamente
desqualifica os rottweilers ferozes, ansiosos ou nervosos. O rottweiler até em temperamento
deve ser equilibrado ...).
Desta forma, fica muito
difícil um exame mais acurado e técnico do árbitro. Até mesmo a análise da importante
angulação da escápula pode resultar comprometida pela expressão corporal defeituosa
do cão projetado para a frente. Tal prejuízo é maior quando se vai comparar a
harmonia desta angulação com a angulação coxofemoral, pois a parte traseira do
rottweiler, nesta insólita situação, fica retorcida e se movimentando...
Enfim, creio que será relevante
que, no futuro não muito distante, se outorgue às exposições especializadas uma
dinâmica ou metodologia que priorize a técnica, a qualidade dos julgamentos, e
menos a “espetacularização” do evento. Menos competição e estardalhaço e mais
seriedade e respeito aos protocolos, conhecimentos técnicos e valores éticos.
Afranio Silva Jardim,
titular do Canil Jardim Silva, há 23 anos.
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