ROTTWEILER, SUAS BOCHECHAS SEGUNDO O PADRÃO OFICIAL DA RAÇA
Muito se tem falado
sobre a cabeça do rottweiler, mormente em razão das distorções que estão sendo difundidas,
nada obstante as penalidades previstas no padrão rácico. Entretanto, as
bochechas do rottweiler não têm merecido a devida atenção dos criadores e dos
juízes nas exposições de beleza.
Eu mesmo, que já
publiquei inúmeros estudos sobre esta nossa raça, tenho me descurado de uma
específica reflexão sobre as bochechas do rottweiler (vejam em caniljardimsilva.blogspot.com).
Provavelmente esta
omissão seja decorrente do formato do padrão oficial da raça, elaborado pelo
clube alemão ADRK e homologado pela FCI e pela nossa CBKC. Explico: o referido
padrão nada dispõe em relação às bochechas do rottweiler quando descreve, na
sua primeira parte, as características que devem ter um rottweiler.
Na verdade, somente
quando elenca as faltas leves e graves é que o padrão oficial menciona as
bochechas, conforme abaixo explicitaremos.
Por isso, tem pertinência dizer que deva ser
sistemática a interpretação do texto formulado pela ADRK, conforme estudo que
publicamos em nosso supra referido blogue. O padrão precisa ser entendido
através da utilização das boas técnicas de hermenêutica.
Ao descrever a cabeça do
rottweiler, o padrão já deixa implícito algo sobre o formato do “rosto” do
rottweiler. Ao dispor que a sua cabeça não deva ser muito larga entre as
orelhas e que o focinho não pode ser menor do que quarenta por cento do crânio,
focinho este que não deve ser descendente ou ascendente (arrebitado), o padrão
rácico já deixa uma pista no sentido de que a cabeça do rottweiler não é
braquicéfala e deve ter um formato meio “alongado”, o que já poderia excluir a
presença de bochechas exageradas.
Felizmente, mais
adiante, o padrão passa a ser expresso, como já adiantamos acima. Vale dizer,
na sua parte final, o padrão rácico cuida de como devam ser as bochechas dos
indivíduos da nossa raça.
Certo que o referido texto
poderia ser mais analítico e detalhado, mas já nos dá elementos suficientes
para criarmos cães com a desejada tipicidade.
Ao elencar as faltas, que
devem ser consideradas, a princípio, não graves, o padrão censura expressamente
as “bochechas exageradamente pronunciadas”, tendo antes recriminado o “crânio
excessivamente amplo”, com “stop” muito acentuado.
Mais adiante, ao se
referir às faltas graves, o padrão é claro em não admitir “rugas pronunciadas”
nas bochechas, bem como em outras partes da cabeça do rottweiler. Para evitar
equívocos, abaixo transcrevo exatamente como está dito no padrão da nossa raça:
“FALTAS GRAVES:
pele na cabeça intensamente enrugada; rugas pronunciadas na área da testa, no
focinho e nas bochechas; barbela nítida”.
O problema é que o
padrão se utiliza de expressões que, no estudo do Direito, chamamos de
expressões de conteúdo indeterminado, vale dizer, conteúdo não muito
delimitado, não muito preciso. Verdade que todas as palavras precisam de alguma
interpretação, mormente no contexto em que estão inseridas. Entretanto, algumas
tornam a sua hermenêutica ainda mais problemática, por serem genéricas ou de
sentido dúbio.
Assim, surge um
justificado questionamento: como interpretar a expressão “exageradamente
pronunciadas”? O que são “rugas pronunciadas nas bochechas”? (faltas leves e
graves, respectivamente).
Preliminarmente, julgamos
que os exames da adequação das bochechas de um rottweiler com o seu padrão deva
ser realizado com a boca do animal fechada. A toda evidência, a boca aberta
distorce o rosto e torna natural o aparecimento de rugas.
Por outro lado, toda e
qualquer interpretação das regras do padrão deve ter como preocupação a tipicidade
da raça e a sua estrutura esquelética. Pelo índice cefálico, a cabeça do
rottweiler se aproxima mais dos mesaticéfalos (índice cefálico intermediário),
com formato mais próximo dos lupóides (forma de pirâmide). Talvez possamos chegar
a dizer “lupomolossóide”, expressão cunhada pela literatura mais especializada.
Desta forma, o “rosto”
ou face do rottweiler não deve ser “arredondada”, esférica. Falando vulgarmente,
o rottweiler não deve ser “bochechudo” ... Aí entra a expressão “exageradamente”
usada pelo padrão.
Também neste particular,
o indesejado subjetivismo é inevitável, devendo ser considerado o princípio da
razoabilidade. Não se deseja uma bochecha dilatada, arredondada ou cuja pele
não esteja ajustada ou aderente à correspondente musculatura.
Até aqui, estamos diante
de uma falta leve. Qual é então a diferença
para falta grave apontada pelo padrão rácico?
Ao dispor sobre a falta
grave o padrão fala em “rugas”; fala em rugas pronunciadas nas bochechas. Ao
usar a expressão pronunciadas, fica claro que não é qualquer ruga na bochecha
do rottweiler que deva ser considerada falta grave. Pode existir ruga, desde
que não seja “pronunciada”. Notem que aqui o padrão não exige que seja “exageradamente”
pronunciada, vale dizer, basta que a ruga da bochecha seja pronunciada.
Desta forma, uma pequena
ruga na bochecha não será falta grave e nem falta leve se a bochecha não esteja
muito exposta, muito projetada. Agora, se a ruga for muito evidente, muito
dilatada, muito “exuberante”, a gravidade da falta estará presente. Esta
avaliação, como todas, será sempre subjetiva e muito sujeita a erros e
críticas.
Por isso, concluo repetindo:
toda a interpretação das regras do padrão deve levar em linha de conta o seu
contexto, deve considerar a tipicidade da raça e o seu modelo esquelético, bem
como a função para qual a raça dou criada e aperfeiçoada. Aqui a matemática não
nos socorre, mas sim o bom senso e a honestidade intelectual do intérprete, que
deve explicitar os seus critérios e deles nunca se afastar.
Verão de 2023,
Afranio Silva Jardim, titular do Canil Jardim
Silva, registrado na CBKC sob o n.1759/2000
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