ROTTWEILER: BREVE ANÁLISE DA SUA PARTE FRONTAL

         (Strauss Kanto do Jardim Silva - 5 meses)         (Zeus Zeus do Jardim Silva - 12 meses)                               



    ROTTWEILER: BREVE ANÁLISE DA SUA PARTE FRONTAL

 

É mais do que natural que as pessoas leigas privilegiem a frente dos cães. Mesmo os criadores dão mais atenção à aparência frontal de seus cães, seja na seleção para seus acasalamentos, seja nas fotos que publicam, seja na apresentação dos animais nas exposições de beleza, gerais ou especializadas.

Forçoso é reconhecer que os próprios árbitros acabam também sendo “contaminados” por estas práticas e, por vezes, dão mais atenção a este ângulo para exame dos cães nas exposições caninas.

Em princípio, nada contra esta realidade, já consolidada e que não deixa de ter alguma razão de ser. Entretanto, cabe criticar, construtivamente, a menor atenção dada às demais partes do cão, mormente nas exposições especializadas dos nossos rottweilers.

Não podemos deixar de considerar que os corpos dos cães também são um sistema e são estruturados com obediência a princípios da física mecânica. A alteração de uma das suas partes afeta o conjunto e pode alterar a movimentação correta do animal.

Por isso, tenho constantemente alertado, nas redes sociais, que não se pode analisar a qualidade de um rottweiler apenas diante de uma foto frontal e em diagonal. É preciso examinar o cão em “stay” lateral, que permita ver toda a sua linha superior, sua linha inferior, sua profundidade de peito, angulações, inserção de pescoço e cauda, etc., etc.

No meu blogue, tenho vários textos nos quais faço breves estudos sobre estas outras partes do rottweiler. Neste blogue, publiquei também um longo estudo e original comentário sobre o padrão oficial da nossa raça. Vejam: caniljardimsilva.blogspot.com

Agora, feita esta necessária advertência, passo a analisar, ainda que superficialmente, a parte frontal do rottweiler, a qual dou a mesma importância que às demais. Escrevo para o público em geral (leigos) e para aqueles que ainda estão iniciando a criação, não tendo a pretensão de ensinar nada aos estudiosos da raça.

A cabeça do rottweiler tem sido o maior fator de debates e discussão entre juízes e criadores. Levados por interesses comerciais ou gostos pessoais, muitos estão valorizando cabeças desproporcionais, grandes, pesadas e largas, prejudicando a própria tipicidade da raça. Diante deste nefasto modismo, tendo dito que estão criando uma nova raça canina com o indevido nome rottweiler.

Por este motivo, procurando combater esta trágica distorção, o padrão oficial da raça foi modificado em julho de 2018, acrescentando expressões que visam evitar que o rottweiler se transforme em um cão “muito molossóide e de aparência geral pesada” (características punidas com falta grave pelo padrão oficial da raça, adotado pela FCI e nossa CBKC).

O referido padrão é expresso no sentido de que o crânio do rottweiler deve ter um comprimento médio, sendo “relativamente largo entre as orelhas”. Ademais, o focinho não pode ser menor do que quarenta por cento de toda a cabeça, que não pode ter um “stop” muito profundo, ou como diz o padrão, deve ser “relativamente marcado”.

Cabe ressaltar que a proporção de quarenta por cento entre focinho em relação à cabeça do rottweiler é o mínimo exigido, admitindo-se um focinho um pouco maior. Acho que seria até desejável uma proporção de quarenta e cinco ou cinquenta por cento.

Cabe ressaltar, ainda, que o focinho não deve ser descendente ou ascendente (arrebitado), deve ter a cana nasal reta, larga, mas estreitando em direção à trufa, sendo que esta precisa ser bem escura. São desejáveis lábios pretos e gengivas escuras, com a comissura labial não visível, sendo punidos pelo padrão oficial da raça os lábios “pendulosos” e cor-de-rosa ou manchados”. Notem que somente é falta o lábio não preto, não ocorrendo o mesmo com a gengiva. Em relação a ela, não se fala em falta, apenas dispondo o padrão: “gengivas tão escuras quanto possível”.

Ademais, não podemos esquecer de que crânio “excessivamente amplo” é falta prevista no padrão da raça. Não deve ele ter o formato de cuia, a forma de cúbica ou de uma esférica, não devendo ser alta a testa do rottweiler.

Desta forma, tendo em vista o chamado índice cefálico – largura da cabeça x cem, dividido pelo seu comprimento – podemos afirmar que o cabeça do rottweiler não é braquicéfala, sendo mais próxima dos cães mesaticéfalos, devendo ter um formato que fique entre a cabeça lupóide (forma de pirâmide, crânio mais longo do que o focinho) e a cabeça molossóide (forma cúbica e esférica). Por isso, fala-se em cabeça “lupomolossóide”.

O tamanho, peso e formato da cabeça têm grande relevância não só no balanceamento corpóreo do cão, como também em relação à sua saúde, seja no alinhamento de sua dentição, seja na sua respiração, que sempre resulta prejudicada com focinhos muito curtos. A correção dos olhos e da respectiva visão do animal também estão ligados ao formato do crânio (os braquicéfalos têm mais propensão ao prolapso da terceira pálpebra).

Vale dizer, precisamos ser absolutamente obedientes ao que está dito no padrão oficial da raça. Se criarmos com base em gostos pessoais, além de degenerarmos ou descaracterizarmos a nossa raça, poderemos estar criando problemas físicos para os nossos cães ...

Cabe salientar, outrossim, que as arcadas zigomáticas devem ser desenvolvidas, mas o sulco frontal não deve ser muito profundo. Os olhos do rottweiler devem ser “amendoados”, sendo faltas, previstas no padrão, os olhos claros, de “inserção profunda”, bem como olhos muito centrais, “cheios e redondos”.

Notem que, também na raça rottweiler, o princípio maior é o equilíbrio, a ponderação, a proporcionalidade. Volto a dizer, o corpo do animal é um sistema harmônico que não pode ser alterado sem sérias consequências. Uma girafa poderia ter uma enorme cabeça? Um elefante poderia ter um pescoço fino?

Assim, um rottweiler com uma cabeça muito larga e pesada necessitará de um pescoço mais curto e grosso. Entretanto, o padrão exige expressamente um pescoço forte, mas “moderadamente longo”, “com linha superior ligeiramente arqueada”. Ainda não admite excessivas barbelas (peles soltas).

Por outro lado, não se pode quebrar o equilíbrio das partes do rottweiler. Uma cabeça muito larga e um pescoço curto e grosso vão deslocar para a frente o centro de gravidade do cão, prejudicando a sua resistência física, sobrecarregando os membros dianteiros e mesmo a sua propulsão traseira, que ficará mais leve e com menor aderência ao chão, dentre outros problemas mais.

Ademais, o correto “encaixe” do pescoço no tronco do cão vai determinar a sua postura e inclinação correta para a boa movimentação do rottweiler.

Falemos agora algo sobre o peito e antepeito do rottweiler, sempre em obediência às regras do padrão rácico.

 

O padrão rácico é expresso em exigir um antepeito “bem desenvolvido”. O osso esterno não deve ser muito saliente, vale dizer, não deve ser muito pronunciado, entretanto, não pode parecer uma indesejável cavidade. Sendo examinado de perfil, o antepeito deve estar um pouco adiante da ponta do ombro.

Ademais, o rottweiler não deve ter uma frente exageradamente larga, que quase sempre decorre de uma caixa torácica em forma de “barril”. O padrão fala apenas em costelas bem arqueadas. Aqui também se pede moderação e equilíbrio, pois não se deseja uma caixa torácica muito fina, em forma de “quilha”. O ideal é o meio termo.

Um arqueamento de costelas muito largo tende a “jogar para fora” os cotovelos do cão, prejudicando, inclusive, a sua correta movimentação. Os braços do rottweiler devem sempre estar “bem ajustados ao seu corpo”. Por outro lado, um cão muito largo tem mais aderência ao solo o que dificulta o impulso inicial para sua movimentação, vale dizer, a saída da posição estática para a dinâmica.

Como se sabe, o rottweiler não é mais um cão de tração, o que seria tido como maus tratos pela lei brasileira. O rottweiler deve ser ágil, rápido e apto a saltar obstáculos, como deve ser um cão de proteção ou guarda.

Por outro lado, um arqueamento de costelas muito fino prejudicará o equilíbrio do rottweiler que, tendo um indesejável frente estreita, necessitará “jogar para fora” as suas patas dianteiras, em busca de maior estabilidade.

Não é por outro motivo que o padrão oficial da nossa raça é literal ao dispor que as pernas dianteiras do rottweiler “são retas e não são colocadas muito fechadas entre si (moderadamente afastadas). Repito: tudo no rottweiler deve ser moderado ...

Os antebraços precisam ser retos e verticais, bem como “fortemente desenvolvidos e musculosos”. Importante perceber que os metacarpos precisam ser flexíveis, pois funcionam como uma espécie de amortecedores de algum impacto maior.

A profundidade do peito dos cães tem relação como o arqueamento das costelas. Assim, um cão com a caixa torácica muito larga (forma de barril) tende a ter um peito menos profundo, terminando acima dos cotovelos. O oposto também pode ocorrer. No rottweiler, o peito deve ir até os seus cotovelos, dando-lhe uma aparência robusta, forte e compacta. O padrão deseja que o peito do rottweiler chegue a cinquenta por cento da altura da cernelha. Vale dizer, o peito do cão deve representar a metade de sua altura (altura esta medida a partir da coroa da escápula e não da cabeça do animal).

Por derradeiro, deseja-se que a angulação da escápula (escápulo-umeral) seja de cerca de quarenta e cinco graus em relação ao plano horizontal, em harmonia com a angulação fêmuro-coxal (importante para a correta movimentação do cão). Esta angulação vai determinar, inclusive, o alcance do passo do rottweiler.

Finalmente, cabe explicitar que a linha inferior do rottweiler não deve ser cedida ou flácida, mas também o padrão veda o seu esgalgamento.

Em nosso comentário sobre o padrão oficial da raça (alterado em 2018), examinamos as demais características da raça rottweiler, fazendo uma interpretação sistemática e original do texto aprovado pela FCI e pela nossa CBKC. Este longo estudo e outros menores estão publicados em nosso blogue, cujo endereço é: caniljardimsilva.blogspot.com

 

Verão de 2023, Afranio Silva Jardim, há 23 anos titular do Canil Jardim Silva (CBKC registro 1759/2000).

 

 

 


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