ROTTWEILER: BREVE
ANÁLISE DA SUA PARTE FRONTAL
É mais do que natural
que as pessoas leigas privilegiem a frente dos cães. Mesmo os criadores dão
mais atenção à aparência frontal de seus cães, seja na seleção para seus
acasalamentos, seja nas fotos que publicam, seja na apresentação dos animais
nas exposições de beleza, gerais ou especializadas.
Forçoso é reconhecer que
os próprios árbitros acabam também sendo “contaminados” por estas práticas e,
por vezes, dão mais atenção a este ângulo para exame dos cães nas exposições
caninas.
Em princípio, nada
contra esta realidade, já consolidada e que não deixa de ter alguma razão de
ser. Entretanto, cabe criticar, construtivamente, a menor atenção dada às
demais partes do cão, mormente nas exposições especializadas dos nossos
rottweilers.
Não podemos deixar de
considerar que os corpos dos cães também são um sistema e são estruturados com
obediência a princípios da física mecânica. A alteração de uma das suas partes
afeta o conjunto e pode alterar a movimentação correta do animal.
Por isso, tenho constantemente
alertado, nas redes sociais, que não se pode analisar a qualidade de um
rottweiler apenas diante de uma foto frontal e em diagonal. É preciso examinar
o cão em “stay” lateral, que permita ver toda a sua linha superior, sua linha
inferior, sua profundidade de peito, angulações, inserção de pescoço e cauda,
etc., etc.
No meu blogue, tenho
vários textos nos quais faço breves estudos sobre estas outras partes do
rottweiler. Neste blogue, publiquei também um longo estudo e original
comentário sobre o padrão oficial da nossa raça. Vejam:
caniljardimsilva.blogspot.com
Agora, feita esta necessária
advertência, passo a analisar, ainda que superficialmente, a parte frontal do
rottweiler, a qual dou a mesma importância que às demais. Escrevo para o público
em geral (leigos) e para aqueles que ainda estão iniciando a criação, não tendo
a pretensão de ensinar nada aos estudiosos da raça.
A cabeça do rottweiler
tem sido o maior fator de debates e discussão entre juízes e criadores. Levados
por interesses comerciais ou gostos pessoais, muitos estão valorizando cabeças
desproporcionais, grandes, pesadas e largas, prejudicando a própria tipicidade
da raça. Diante deste nefasto modismo, tendo dito que estão criando uma nova
raça canina com o indevido nome rottweiler.
Por este motivo,
procurando combater esta trágica distorção, o padrão oficial da raça foi
modificado em julho de 2018, acrescentando expressões que visam evitar que o
rottweiler se transforme em um cão “muito molossóide e de aparência geral
pesada” (características punidas com falta grave pelo padrão oficial da raça,
adotado pela FCI e nossa CBKC).
O referido padrão é
expresso no sentido de que o crânio do rottweiler deve ter um comprimento
médio, sendo “relativamente largo entre as orelhas”. Ademais, o focinho não
pode ser menor do que quarenta por cento de toda a cabeça, que não pode ter um
“stop” muito profundo, ou como diz o padrão, deve ser “relativamente marcado”.
Cabe ressaltar que a
proporção de quarenta por cento entre focinho em relação à cabeça do rottweiler
é o mínimo exigido, admitindo-se um focinho um pouco maior. Acho que
seria até desejável uma proporção de quarenta e cinco ou cinquenta por cento.
Cabe ressaltar, ainda,
que o focinho não deve ser descendente ou ascendente (arrebitado), deve ter a
cana nasal reta, larga, mas estreitando em direção à trufa, sendo que esta
precisa ser bem escura. São desejáveis lábios pretos e gengivas escuras, com a
comissura labial não visível, sendo punidos pelo padrão oficial da raça os lábios
“pendulosos” e cor-de-rosa ou manchados”. Notem que somente é falta o lábio não
preto, não ocorrendo o mesmo com a gengiva. Em relação a ela, não se fala em
falta, apenas dispondo o padrão: “gengivas tão escuras quanto possível”.
Ademais, não podemos
esquecer de que crânio “excessivamente amplo” é falta prevista no padrão da
raça. Não deve ele ter o formato de cuia, a forma de cúbica ou de uma esférica,
não devendo ser alta a testa do rottweiler.
Desta forma, tendo em
vista o chamado índice cefálico – largura da cabeça x cem, dividido pelo seu
comprimento – podemos afirmar que o cabeça do rottweiler não é braquicéfala,
sendo mais próxima dos cães mesaticéfalos, devendo ter um formato que fique
entre a cabeça lupóide (forma de pirâmide, crânio mais longo do que o focinho)
e a cabeça molossóide (forma cúbica e esférica). Por isso, fala-se em cabeça
“lupomolossóide”.
O tamanho, peso e
formato da cabeça têm grande relevância não só no balanceamento corpóreo do
cão, como também em relação à sua saúde, seja no alinhamento de sua dentição,
seja na sua respiração, que sempre resulta prejudicada com focinhos muito
curtos. A correção dos olhos e da respectiva visão do animal também estão ligados
ao formato do crânio (os braquicéfalos têm mais propensão ao prolapso da
terceira pálpebra).
Vale dizer, precisamos
ser absolutamente obedientes ao que está dito no padrão oficial da raça. Se
criarmos com base em gostos pessoais, além de degenerarmos ou
descaracterizarmos a nossa raça, poderemos estar criando problemas físicos para
os nossos cães ...
Cabe salientar,
outrossim, que as arcadas zigomáticas devem ser desenvolvidas, mas o sulco
frontal não deve ser muito profundo. Os olhos do rottweiler devem ser
“amendoados”, sendo faltas, previstas no padrão, os olhos claros, de “inserção
profunda”, bem como olhos muito centrais, “cheios e redondos”.
Notem que, também na
raça rottweiler, o princípio maior é o equilíbrio, a ponderação, a
proporcionalidade. Volto a dizer, o corpo do animal é um sistema harmônico que
não pode ser alterado sem sérias consequências. Uma girafa poderia ter uma
enorme cabeça? Um elefante poderia ter um pescoço fino?
Assim, um rottweiler com
uma cabeça muito larga e pesada necessitará de um pescoço mais curto e grosso.
Entretanto, o padrão exige expressamente um pescoço forte, mas “moderadamente
longo”, “com linha superior ligeiramente arqueada”. Ainda não admite excessivas
barbelas (peles soltas).
Por outro lado, não se
pode quebrar o equilíbrio das partes do rottweiler. Uma cabeça muito larga e um
pescoço curto e grosso vão deslocar para a frente o centro de gravidade do cão,
prejudicando a sua resistência física, sobrecarregando os membros dianteiros e
mesmo a sua propulsão traseira, que ficará mais leve e com menor aderência ao
chão, dentre outros problemas mais.
Ademais, o correto
“encaixe” do pescoço no tronco do cão vai determinar a sua postura e inclinação
correta para a boa movimentação do rottweiler.
Falemos agora algo sobre
o peito e antepeito do rottweiler, sempre em obediência às regras do padrão
rácico.
O padrão rácico é
expresso em exigir um antepeito “bem desenvolvido”. O osso esterno não deve ser
muito saliente, vale dizer, não deve ser muito pronunciado, entretanto, não
pode parecer uma indesejável cavidade. Sendo examinado de perfil, o antepeito
deve estar um pouco adiante da ponta do ombro.
Ademais, o rottweiler
não deve ter uma frente exageradamente larga, que quase sempre decorre de uma
caixa torácica em forma de “barril”. O padrão fala apenas em costelas bem
arqueadas. Aqui também se pede moderação e equilíbrio, pois não se deseja uma
caixa torácica muito fina, em forma de “quilha”. O ideal é o meio termo.
Um arqueamento de costelas
muito largo tende a “jogar para fora” os cotovelos do cão, prejudicando,
inclusive, a sua correta movimentação. Os braços do rottweiler devem sempre
estar “bem ajustados ao seu corpo”. Por outro lado, um cão muito largo tem mais
aderência ao solo o que dificulta o impulso inicial para sua movimentação, vale
dizer, a saída da posição estática para a dinâmica.
Como se sabe, o
rottweiler não é mais um cão de tração, o que seria tido como maus tratos pela lei
brasileira. O rottweiler deve ser ágil, rápido e apto a saltar obstáculos, como
deve ser um cão de proteção ou guarda.
Por outro lado, um arqueamento
de costelas muito fino prejudicará o equilíbrio do rottweiler que, tendo um
indesejável frente estreita, necessitará “jogar para fora” as suas patas dianteiras,
em busca de maior estabilidade.
Não é por outro motivo
que o padrão oficial da nossa raça é literal ao dispor que as pernas dianteiras
do rottweiler “são retas e não são colocadas muito fechadas entre si (moderadamente
afastadas). Repito: tudo no rottweiler deve ser moderado ...
Os antebraços precisam ser
retos e verticais, bem como “fortemente desenvolvidos e musculosos”. Importante
perceber que os metacarpos precisam ser flexíveis, pois funcionam como uma
espécie de amortecedores de algum impacto maior.
A profundidade do peito
dos cães tem relação como o arqueamento das costelas. Assim, um cão com a caixa
torácica muito larga (forma de barril) tende a ter um peito menos profundo,
terminando acima dos cotovelos. O oposto também pode ocorrer. No rottweiler, o
peito deve ir até os seus cotovelos, dando-lhe uma aparência robusta, forte e
compacta. O padrão deseja que o peito do rottweiler chegue a cinquenta por
cento da altura da cernelha. Vale dizer, o peito do cão deve representar a
metade de sua altura (altura esta medida a partir da coroa da escápula e não da
cabeça do animal).
Por derradeiro,
deseja-se que a angulação da escápula (escápulo-umeral) seja de cerca de quarenta
e cinco graus em relação ao plano horizontal, em harmonia com a angulação fêmuro-coxal
(importante para a correta movimentação do cão). Esta angulação vai determinar,
inclusive, o alcance do passo do rottweiler.
Finalmente, cabe
explicitar que a linha inferior do rottweiler não deve ser cedida ou flácida,
mas também o padrão veda o seu esgalgamento.
Em nosso comentário sobre
o padrão oficial da raça (alterado em 2018), examinamos as demais características
da raça rottweiler, fazendo uma interpretação sistemática e original do texto
aprovado pela FCI e pela nossa CBKC. Este longo estudo e outros menores estão
publicados em nosso blogue, cujo endereço é: caniljardimsilva.blogspot.com
Verão
de 2023, Afranio Silva Jardim, há 23 anos titular do Canil Jardim Silva (CBKC
registro 1759/2000).
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