(foto de um rottweiler de alguns anos atrás)
 

            O ROTTWEILER COMO CÃO DE GUARDA

 

Tudo aquilo que se falar de uma determinada raça canina deve partir do seu padrão rácico.

No nosso caso, também não devemos nos descurar do que está expressamente previsto no padrão oficial da raça rottweiler, bem como do seu “espírito” e do sistema morfológico que deve ser extraído das “entrelinhas” do padrão adotado pela FCI e pela nossa CBKC, dentro de uma arguta visão de conjunto e sistemática.

Isto vale tanto para o aspecto morfológico como também para a busca do temperamento desejado de um bom e típico rottweiler. Importante considerar o escopo da alteração do padrão oficial ocorrida em 2018. Cabe a indagação: por que tal modificação? O que visaram estas importantes modificações do padrão originário?

Embora haja estreita relação entre a estrutura, movimentação e temperamento do cão, vamos examinar estes aspectos separadamente, conforme método do padrão oficial da raça rottweiler. Entretanto, cabe, desde logo, ressaltar que tal importante documento cinófilo não usa a expressão “guarda”, preferindo a palavra “proteção”, inserindo a finalidade “resgate” (final do item “Breve Resumo Histórico).

Desta forma, parece-nos oportuno começar pela análise do temperamento desejável para o rottweiler, pois uma das suas principais finalidades deve ser a “proteção” (ou guarda) do patrimônio e de pessoas a ele ligadas.

Sobre o comportamento e o temperamento do rottweiler dispõe o padrão oficial que ele deva ser “amigável e pacífico”. Deve ser “autoconfiante, com coragem e nervos firmes”. A reforma de 2018, fez introduzir no padrão que o cão deva ser “equilibrado”.

Por isso, o padrão pune severamente alguns perigosos desvios de comportamento, decorrentes de temperamento bravio e agressivo.

Notem que o padrão oficial da raça rottweiler chega a exigir a DESQUALIFICAÇÃO de exemplares emocionalmente desequilibrados. Após punir os cães “extremamente tímidos”, “covardes” e “excessivamente desconfiados”, o padrão da nossa raça insere, dentro das “faltas desqualificantes”, os “cães agressivos”, “ansiosos”, “ferozes” e “nervosos”.

Fica claro que o rottweiler não deve ser um cão feroz ou bravio, como pensam alguns criadores e adestradores. O rottweiler não pode ser uma “arma” perigosa que coloque em sério risco as pessoas que com ele tenham contato, seja constante, seja eventual. Por isso, o padrão exige que ele seja “equilibrado”.

Cão protetor não é aquele que fica rosnando no portão das residências, assustando crianças e demais pessoas que passem em sua frente. Cão protetor jamais ataca pessoas que não estejam colocando em risco o seu território ou dono (não gosto da palavra tutor ...).

O rottweiler deve trazer segurança e não temor e medo para quem com ele convive. Em relação a estranhos, ele deve saber avaliar os comportamentos atípicos e somente agredir aqueles que ofereçam efetivamente perigo.

Por isso, não endosso treinamentos destinados a transformar os rottweilers em verdadeiras feras, bem como acho um equívoco veicular, para o grande público, fotos e vídeos de rottweilers extremamente agressivos, tendo o seu condutor grande dificuldade de contê-los, sendo quase que arrastados pelo cão (ridículo!!!).

Passemos agora a examinar o que pede o padrão em termos de estrutura e movimentação para que o rottweiler possa bem desempenhar a função protetora a que se destina.

A toda evidência, um cão que deva ter uma efetiva função protetiva (guarda) deve ser um animal ágil, expedito, rápido, atento, apto a ultrapassar obstáculos e saltar barreiras. Vale dizer, precisamos compatibilizar a morfologia do rottweiler com a sua função, sendo facilitada por um temperamento adequado, conforme deseja o padrão rácico já visto acima.

Já produzimos vários textos, criticando o equivocado modismo de valorizar rottweilers “muito molossóides e de aparência geral pesada”, características que o padrão da reça elenca como FALTAS GRAVES (caniljardimsilva.blogspot.com).

Destarte, vemos que estas regras do padrão são lógicas e coerentes com o que se espera desta maravilhosa raça canina.

Mais uma vez, advirto: não podemos descaracterizar o rottweiler, pois, sem tipicidade, a raça desaparece.

Não se pode criar com base em gostos pessoais ou apelos comerciais, mas sim com base no padrão oficial da raça.

Como na maioria das raças, tudo no rottweiler exige equilíbrio e proporcionalidade. A cabeça do rottweiler não é braquicéfala, o que exigiria um pescoço curto e grosso, deslocando o seu centro de gravidade para a parte dianteira do cão, com sérias consequências em sua movimentação e resistência. O padrão fala expressamente em “agilidade e resistência”.

Hoje em dia é raro ver um rottweiler com “stop” não muito marcado e com pescoço “moderadamente longo, bem musculoso, mas seco, e com linha superior ligeiramente arqueada”, como impõe expressamente o padrão oficial.

Sendo um cão de proteção (guarda), o rottweiler deve ser ágil, conforme salientado acima e como assim exige o padrão da raça. Por conseguinte, o rottweiler não é um cão de frente excessivamente larga, com “costelas de barril” e poucas angulações nos posteriores. Tais angulações nos membros posteriores são muito importantes para o maior impulso do rottweiler. Sem estas boas angulações o cão tem mais dificuldade de sair da posição estática, ganhar velocidade e saltar obstáculos.

Tenho constatado que estão muito ruins os membros posteriores dos rottweiler, com falta de paralelismo e com angulações deficientes. Isto se constata até mesmo em exemplares premiados. Talvez por isso, são postadas fotos apenas frontais dos cães ...

Estas indesejáveis características aumentam a aderência do animal ao solo e são mais próprias dos cães de tração, de esforço físico. O cão de guarda tem de ser apto a romper obstáculos e a saltar barreiras. Tem de ser ligeiro e rápido. Por isso mesmo, o tão citado padrão da raça é expresso em penalizar com falta grave a “ação lenta durante o trote”.

Lamentavelmente, nos dias atuais, e não é só em nosso país, está “vingando” uma “cultura” de criação equivocada, um modismo que está descaracterizando a raça no que ela tem de tipicidade. Alguns criadores estão divulgando este modelo de rottweiler para o grande público e o comprador leigo privilegia estes cães pesadíssimos, pensando que este é o padrão correto da raça.

Ademais, os novos criadores também acabam fazendo opções equivocadas, pois são poucos os que realmente estudam o padrão da raça. O “ciclo perverso” se fecha quando juízes também se influenciam pelo gosto difundido no ambiente da criação e acabam premiando, nas exposições gerais e especializadas, exemplares muito limítrofes ao que o padrão disciplina, realimentando a criação errada e a comercialização de exemplares quase que atípicos. Ainda vamos parar??? Se é que vamos parar???

Afranio Silva Jardim – titular do Canil Jardim Silva, há 23 anos envolvido com a criação de cães.

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