UMA BREVE E SUPERFICIAL REFLEXÃO SOBRE A NOSSA INSERÇÃO NO “MUNDO DO ROTTWEILER"
Criamos cães de raça há
quase vinte e seis anos. Começamos com dogues alemães e, há cerca de seis anos,
passamos a criar também cães da raça rottweiler. Tiramos quatro ninhadas e temos
participado de exposições de conformação e beleza de clubes filiados à
Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC) há apenas dois anos.
Na atualidade, temos
trinta e três rottweilers em nosso canil. Começamos comprando muitos filhotes
de vários destacados criadores. Não vendemos
nossos filhotes. Após ficarmos vários meses com toda a ninhada, para melhor
escolher aqueles que ficarão na nossa criação, doamos os demais filhotes para
pessoas que possam dar a eles um lar adequado, com carinho e cuidados.
Em todos os acasalamentos
do nosso “Canil Jardim Silva”, optamos sempre por “line breedings”, buscando
fixar boas características físicas e de temperamento, através de cães
homozigotos em genes determinantes de uma melhor qualidade dos filhotes. Ainda
não tivemos tempo para obter quatro gerações de algum destes acasalamentos,
necessárias ao estabelecimento de uma verdadeira “linha de sangue”.
Em termos de exposições,
tivemos relativos sucessos, embora com poucos rottweilers adultos e frequentando
exposições apenas no sudeste de nosso país e sempre com a nossa presença.
Levamos e trazemos nossos cães.
A toda evidência, em nossa região sudeste, a competitividade
é muito maior e acirrada, o que nos proporciona disputar com os melhores cães
da criação nacional. Mesmo assim, conseguimos dois títulos de campeão filhote,
seis títulos de jovem campeão, e um de campeão nacional, prestes a fechar o grande
campeonato.
Em nosso primeiro ano de
exposições gerais de conformação ao padrão rácico, ficamos em vigésimo lugar,
tendo setenta e seis criadores pontuando no ranking do site DogShow. Neste ano,
que está findando, melhoramos e já estamos no honroso oitavo lugar entre
setenta criadores de todo o país.
Ademais, na região 2 (ES,
MG, DF e Centro Oeste), o Canil Jardim Silva está em terceiro lugar. No ERJ, ele está em quarto lugar.
Cabe esclarecer, mais
uma vez, que nossa maior motivação não é a competição nas exposições. Reconhecemos
que elas são relevantes por várias circunstâncias, inclusive, para aferir a
qualidade das proles obtidas pelos criadores. Entretanto, o nosso foco principal
é a criação estratégica e estudada da raça rottweiler, buscando qualidade e
estabelecimento de “linhas de sangue”.
Por isso, julgamos mais
importante ter proles homogêneas e de qualidade sucessivas do que a obtenção de
um extraordinário cão, vencedor de exposições, obtido por sorte e heterozigoto,
que pode ser portador de genes recessivos ocultos ruins.
Nestes quase sete anos
de criação da raça rottweiler, me dediquei principalmente ao estudo sistemático
e à interpretação lógica do seu padrão oficial, elaborado pelo clube alemão (ADRK),
adotado pela federação internacional (FCI) e homologado pela nossa federação
nacional (CBKC). Como se sabe, tal padrão foi sabiamente reformado no ano de
2018.
Como estudioso que
sempre fui, produzi diversos textos sobre o mencionado padrão rácico, sempre
pugnando pela necessidade de preservamos as características morfológicas do
rottweiler, consoante se vê do teor do meu livro “Rottweiler, Estudos sobre o
Padrão Oficial”, editora Lumen Juris, estando na gráfica a sua quinta edição.
Na referida obra, combatemos
o atual modismo de rottweilers “muito molossóides e de aparência geral pesada”,
características punidas expressamente como falta grave pelo aludido padrão
rácico. Temos dito que, sem tipicidade, não há raça canina.
Entretanto, constatamos
que estamos “remando contra a correnteza”, pois está ficando cristalizada a
equivocada ideia de que o rottweiler deve ser “uma máquina ou um tanque” e não
um cão ágil, rápido e expedito, como se originou e seduziu a cinofilia mundial.
Muitos desejam que o rottweiler seja um molosso braquicéfalo, de focinho curto e
arrebitado, com frente larga e atarracado. Tudo isto está em discordância com o
que dispõe o seu padrão oficial.
Fico desiludido ao
perceber que a maioria de juízes cinófilos acabaram sendo influenciados por
este deletério modismo, de cunho comercial, privilegiando cães de olhos
redondos, com focinhos curtos e arrebitados, em detrimento de sua harmonia
estrutural. Estes julgamentos desorientam
a correta criação, influenciando mal os novos criadores e desinformando o
público leigo.
Mesmo sabendo de grande
risco de insucesso, continuo criando rottweilers “tradicionais”, levando às exposições
meus cães com cabeças menos largas e pesadas, mas de estrutura correta e
conforme o padrão da raça. Prefiro ser um criador fiel ao padrão oficial do que
um eventual vencedor de exposição, estimulador da descaracterização da raça.
Finalizo dizendo que,
apenar das muitas adversidades e incompreensões, está valendo a pena todos os sacrifícios
e, nada obstante a minha já elevada idade, continuarei estudando e criando
rottweilers, pois eles são hoje meus melhores amigos.
Primavera do ano 2025
Afranio Silva Jardim
(titular do Canil Jardim
Silva, há 25 anos).

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