ROTTWEILER: CONFORMAÇÃO AO PADRÃO E RESULTADOS NAS EXPOSIÇÕES
Nossa
reflexão aqui é basicamente o seguinte: por que, em várias exposições caninas,
o rottweiler, que mais está em conformidade com o respetivo padrão rácico, é
preterido por outro cão que apresenta mais faltas morfológicas?
Provavelmente,
o que vamos aqui sugerir vale para os
julgamentos de outras raças. Trata-se de reflexão crítica genérica e de escopo
construtivo, de um criador estudioso e frequentador das chamadas “exposições de
conformação”.
De
suma importância é tornar claro que há
sempre as costumeiras exceções, onde predomina o conhecimento absoluto do
padrão da raça em um julgamento, que se mostra rigorosamente mais técnico.
A maioria dos juízes cinófilos
são habilitados para julgar todas as raças ou mais de um grupo de raças
caninas. Assim, são convidados para atuar nas exposições, avaliando todos ou
quase todos os cães que nelas são apresentados. Lógico que estamos cuidando das
exposições ecléticas ou gerais.
A dinâmica destas exposições não permite, de
um modo geral, que os juízes se detenham, por maior tempo, na análise dos
vários cães apresentados, tudo obedecendo a protocolos oficiais e costumeiros. Este
é o cenário que se apresenta na maioria das exposições de conformação e beleza
em relação ao qual vamos refletir, com base em nossa experiência que, como se
sabe, pode estar contaminada por um inafastável subjetivismo.
Desde
logo, cabe estabelecer uma premissa: é humanamente impossível que os juízes tenham,
em sua mente, todas as inúmeras regras dos padrões oficiais das várias dezenas
de raças caninas inscritas no evento e que são reconhecidas pela CBKC (a FCI
reconhece mais de trezentas raças). Repito: a premência de tempo trabalha
contra o raciocínio do juiz a ser aplicado num contexto competitivo.
Desta
forma, os juízes avaliam as diversas raças, levando mais em linha de conta aquilo
que lhes é comum, bem como as regras morfológicas que são extraídas da física
mecânica, examinando o equilíbrio morfológico do cão, que se reflete na sua estrutura
e vai determinar uma melhor ou pior movimentação.
Assim,
os detalhes específicos de um determinado padrão rácico, muitas vezes, não são
considerados pelo árbitro, salvo quando muito excepcionais, como, por exemplo,
a exigência de prognatismo dentário em algumas poucas raças.
Ademais,
outros fatores não técnicos, na prática, acabam influenciando os julgamentos das
exposições de cães, fatores estes que não cabem ser tratados aqui. Nesta
oportunidade, desejo trazer à consideração os chamados “mitos, crenças ou modismos”
que sempre surgem na criação de quase todas as raças.
Na raça rottweiler, vigora atualmente a crença
de que os exemplares devam ter uma estrutura pesada, com frente larga, com cabeça
grande e com crânio muito largo entre as orelhas, (principalmente em relação aos machos). Tais características podem até
estar em conformidade com o padrão oficial da raça, embora ele puna o crânio
excessivamente amplo e consigne como falta grave o rottweiler “muito molossóide
e de aparência pesada”.
Forçoso
é reconhecer que o nosso padrão oficial deixa uma certa discricionariedade nesta
análise ao utilizar expressões de conteúdo não muito determinado. Por isso, o
nosso questionamento não se refere ao rottweiler que tenha estas
características muito acentuadas e seja violador das regras do respectivo
padrão, chegando, por vezes, a atingir a própria tipicidade da raça.
Assim,
o que censuramos é a super valorização destas características físicas em detrimento
de outros corretos rottweilers, apenas por não apresentarem este aspecto físico
mais pesado, embora sejam mais conformes ao que dispõe o padrão rácico.
Notem
que isto se vê principalmente nas chamadas exposições especializadas, onde os
cães são comparados pelo exame de suas frentes e cabeça, sendo colocados, ao
final da exposição, uns ao lado dos outros, momento em que são indevidamente
estimulados por vários objetos, exibidos pelos auxiliares dos handlers.
Cabe
melhor explicar o que estamos cuidando neste texto: não me parece correto premiar um rottweiler
que apresente defeitos na sua estrutura (dorso selado, focinho curto e
arrebitado, olhos não amendoados, posteriores não paralelos, etc), em
detrimento de um outro rottweiler que não tenha tais faltas morfológicas,
apenas por ele não apresentar aquele aspecto mais “pesado”.
Em
outras palavras: o gosto pessoal do juiz somente deve ser prevalente no caso de
“empate”, ou seja, na hipótese de os cães terem qualidades ou defeitos que os
tornem equivalentes. Agora, se um rottweiler for mais correto, mais conforme o
padrão da raça, não deve ser preterido pelo gosto pessoal do juiz, que aprecie
uma cabeça mais larga, por exemplo.
Os
julgamentos, realizados nas exposições de conformação ao padrão, servem de parâmetro
ou diretriz para a criação das raças, influenciando muito os novos criadores.
Desta
forma, tais julgamentos devem procurar afirmar a grande importância das regras
dos padrões rácicos, deixando o gosto pessoal apenas para o caso absoluto de
desempate, sendo considerados todos os aspectos morfológicos dos padrões respectivos.
Afranio Silva Jardim,
criador e expositor de cães de raça há 25 anos. Autor de livro “Rottweiler,
Estudos sobre o Padrão Oficial”, Editora Lumen Juris, 4ª. edição.
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