SIM, AINDA É POSSÍVEL SALVAR A RAÇA ROTTWEILER
Julgo que o risco da descaracterização do
rottweiler ainda está presente. Muitos criadores e o público em geral ainda
cultuam rottweilers “muito molossóides e de aparência geral pesada”,
características físicas punidas expressamente, como falta grave, pelo padrão
oficial da raça, especialmente após a reforma do ano 2025.
Esta deletéria tendência mundial está, aos
poucos, descaracterizando o rottweiler, tornando-o distante do que foi quando
seduziu a todos e todas.
Na realidade, o rottweiler está se tornando um cão com cabeça quase braquicéfala, frente muito larga, com focinho curto e arrebitado, dentes molares desalinhados, comissuras labiais muito pronunciadas, olhos não amendoados, rugas na cabeça e bochechas, pescoço curto e grosso, com barbelas, dorso longo e selado, bem como cães muito atarracados. Em razão deste indesejável aspecto morfológico, alguns criadores costumam chamar seus rottweilers de tanques ou máquinas (sic).
Se nada mudar, a médio prazo, estaremos criando outra raça com o nome de rottweiler. Sim, pois, se as características originais e fundamentais já não mais estiverem presentes, de rottweiler não se estará tratando.
Nada obstante esta indesejável realidade,
percebo certa tendência a uma nova tomada de consciência em nosso meio. Atualmente
já se fala muito em respeitar as regras do padrão oficial da raça, em atentar
para os aspectos técnicos na criação do rottweiler. Nota-se também uma certa
preocupação com os aprumos dos cães, sua linha de dorso, suas angulações das
escápulas e dos membros posteriores, etc.
Talvez por isso, passamos a ver, com mais
constância, nas redes sociais, fotos destes cães em “stay” lateral, onde melhor
se podem analisar suas qualidades e defeitos morfológicos. Outrora, as fotos
mostravam apenas o rottweiler de frente, priorizando a sua cabeça e procurando
mostrar sua tendência agressiva (rottweiler com “cara de mau” ou até com cara
de Pug).
Também é relevante notar que muitos
criadores qualificados estão privilegiando as exposições gerais de conformação
e beleza, onde se avaliam, com mais precisão, serenidade e técnica, os cães de
todas as raças, permitindo comparar a excelência ou não da criação em seu
momento atual. Não por outro motivo, nestas exposições gerais, os cães da raça
rottweiler são em maior número apresentados.
Como sempre fui otimista, acredito que
estamos vivendo um importante momento de mudança de rumo na criação do
rottweiler em nosso país. Talvez esteja sendo ultrapassado mais um ciclo
deletério. Algum dia, sem prejuízo do seu temperamento forte, talvez o
rottweiler venha alcançar as qualidades das raças como a do boxer, doberman, golden
retriever, basenji e de várias outras.
Muito disso depende de nós, criadores, que
precisamos estudar sistematicamente o padrão rácico, nos preocupar menos com o
chamado mercado, ter uma visão menos imediatista e implementar criação
estratégica, pautada em um mínimo de conhecimento de genética. Fenótipo e
genótipo devem merecer a mesma atenção dos verdadeiros criadores, que não devem
ser confundidos com temporários vencedores de rankings.
Tenho muito atuado em prol da preservação
da nossa raça, embora saiba que os resultados, se vierem, demoram bastante para
serem aparentes. Minha modesta contribuição consiste principalmente na
publicação de um livro, comentando o padrão oficial da raça rottweiler
(Rottweiler, Estudos sobre o Padrão Oficial, Lumen Juris, 4ª.edição), criação
de um blogue exclusivo para temas ligados à nossa raça e constante intervenção
nas redes sociais em geral, correndo o risco de fomentar algumas animosidades injustificáveis.
Para esta retomada de rumo na raça
rottweiler, é de suma importância a contribuição dos juízes cinófilos. É muito
prejudicial para o aprimoramento da criação de uma raça que sejam premiados,
nas exposições, cães que não estejam rigidamente conformados aos seus
respectivos padrões.
Bem sabemos quanto é difícil ter memorizado,
em momento de decisões céleres, todos os detalhes dos inúmeros padrões raciais.
Esta compreensiva dificuldade pode acarretar julgamentos mais influenciados por
mitos e os modismos tão comuns na cinofilia ou mesmo outras circunstâncias não
técnicas.
Juízes cinófilos, criadores sérios e responsáveis
são os principais responsáveis pela existência e rigorosa manutenção das raças
caninas.
Afranio
Silva Jardim, criador de cães há 25 anos.
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