JUÍZES CINÓFILOS: UMA PROPOSTA INOVADORA
Costuma-se dizer, com
absoluta razão: nada é tão bom que não possa melhorar.
Há vinte e cinco anos
criando cães e participando de exposições caninas do sistema CBKC, me sinto
estimulado a provocar um debate construtivo sobre tais exposições de conformação
das raças aos seus respectivos padrões. Elas precisam se aperfeiçoar
constantemente, como tudo na vida.
Somente se muda uma
determinada realidade após conhecê-la em detalhes. Assim, seria ideal que a
CBKC, através dos clubes a ela filiados, realizasse uma ampla pesquisa sobre os
problemas que mais surgem nas referidas exposições. Com a internet, tal
consulta se torna bastante factível.
Cada seguimento que
participa das exposições tem seus problemas específicos e eles precisam ser de
todos sabidos: evidentemente que os problemas dos handlers não são necessariamente
os problemas dos criadores ou dos diretores dos clubes, só para dar um exemplo do
que estamos dizendo.
Entretanto, aqui desejo tratar
apenas de um tema muito importante para o aperfeiçoamento das exposições caninas,
qual seja, a forma de escolha das juízas e dos juízes cinófilos, habilitados
pela CBKC.
Cuida-se de uma proposta
ousada e inovadora, bastante polêmica. Entretanto, queiramos ou não, em
sociedade as mudanças acabam ocorrendo algum dia ...
Na atualidade, os juízes
e juízas são escolhidos livremente por algum dirigente do clube que vai
patrocinar uma determinada exposição. Esta escolha ocorre sem qualquer “transparência”,
sem qualquer justificativa ou motivação.
A forma desconhecida e livre
de escolha dos juízes e juízas, algumas vezes, cria uma certa insatisfação para
criadores e handlers, o que é mais do que natural: nem sempre é possível
agradar a todos.
Por outro lado, esta
forma não regulamentada de selecionar os juízes e as juízas pode estar motivada
por interesses outros que não a excelência dos julgamentos. Isto também é humano,
embora possa estar distante da indispensável ética.
Ademais, esta indicação
discricionária pode criar um certo desconforto para o juiz escolhido, na medida
em que passa a ter um tênue sentimento de gratidão a quem o convidou para tão
relevante mister. Assim, eles acabam preocupados em não desagradar, através dos
seus julgamentos, aos dirigentes do clube e/ou aos criadores nele mais influentes.
Note-se que isto pode
ocorrer até mesmo com juízes estrangeiros que são selecionados livremente para
viajarem até o nosso país. Os mais
experientes, com espírito crítico, percebem isto em algumas ocasiões.
Também outro aspecto
também deve ser considerado, em favor dos juízes: se ele ou elas não agradarem
em seus julgamentos, dificilmente voltarão a ser convidados novamente, podendo
mesmo ficarem em um verdadeiro ostracismo. Tal situação indesejável pode ocorrer
com os juízes mais severos, mais rigorosos em seus julgamentos. Notem que o
juízo de valor sobre agradar ou não é imponderável e nem sempre passa pela
necessária análise técnica ...
Tudo isto pode
prejudicar a total independência dos juízes ou juízas, ou, pelo menos, criar para
eles e elas um certo constrangimento ou desconforto. Não basta ser justo, sendo
também necessário parecer justo...
Partindo da nossa longa
experiência junto ao sistema de justiça pátrio, me aventuro a sugerir que os juízes
cinófilos sejam sorteados e não livremente escolhidos pelos clubes. Para isto,
os julgadores poderiam se cadastrar para atuarem, no máximo, em exposições de
três das cinco regiões geográficas do país, segundo sua conveniência e desejo.
Quinze dias antes da exposição, seria dada publicidade ao resultado do sorteio
dos juízes e respectivos suplentes.
Tal sorteio poderia ser público, transmitido
pela internet, ou devidamente fiscalizado por auditoria independente designada
pela CBKC, que deveria criar regras melhor detalhando o procedimento ora proposto.
Aliás, esta sugestão já
fiz resumidamente em um dos capítulos do meu livro “Rottweiler, Estudos sobre o
Padrão Oficial”, 4ª.edição, Editora Lumen Iuris.
Acredito que a FCI não se oporia a tal
inovação, pois se é livre a escolha dos juízes cinófilos, a CBKC pode regulá-la
desta ou daquela maneira, desde que não viole preceitos editados pela
mencionada federação internacional.
Não temos a ingenuidade
de que mudanças desta monta sejam aceitas e implementadas em curto ou médio
prazo. Bem sabemos como é difícil abrir mão de poderes. Nada obstante, quase
tudo que ocorre hoje já foi desacreditado no passado. Sendo dinâmico tudo que é
social, devemos sempre lutar pelo aperfeiçoamento de nossas práticas. Neste
sendo, o primeiro passo é o salutar debate...
Rio de Janeiro, outono
de 2025
Afranio Silva Jardim,
criador e expositor da cães de raça há vinte e cinco anos.
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