NOTAS SOBRE O TEMPERAMENTO DO ROTTWEILER
O
rottweiler aproximadamente na década dos anos 90 se tornou muito popular aqui
no Brasil. E sempre que uma raça se torna muito popular, surgem interesses comerciais
que, com o passar do tempo, acabam por alterar as raças caninas, seja no
aspecto morfológico, seja no que diz respeito ao seu temperamento.
Em
vários textos constantes do meu livro sobre o padrão oficial da raça, tratei
criticamente da nefasta tendência de se divulgar e louvar, por parte de alguns,
um rottweiler muito molossóide e de aparência geral pesada, características estas
tratadas expressamente como faltas graves pelo respectivo padrão rácico.
Aqui,
faremos algumas observações superficiais sobre a evolução (ou involução) do temperamento
do rottweiler em nosso país, levando em linha de conta a atual criação e o indispensável
padrão rácico.
Preocupados
com a chamada “quebra de temperamento”, isto em razão da popularização e pulverização
da criação do rottweiler em um país desigual e de dimensões continentais como o
nosso, adestradores e criadores sérios dão especial atenção à maior ou menor
aptidão dos cães para o desempenho das funções que justificaram, ao logo do
tempo, a existência da nossa raça canina.
A
toda evidência, eventuais modificações físicas de uma determinada raça não
podem prejudicar o desempenho do animal para as suas principais funções.
Na
sucinta introdução do padrão oficial, homologado e publicado no site da CBKC, logramos
encontrar um breve resumo sobre a história da raça rottweiler, ficando
esclarecido que ele teve relevante função como cão policial, isto mais
recentemente. Hoje praticamente não é mais utilizado para tal finalidade, pelo
surgimento e aproveitamento de outras raças.
O
rottweiler teve função de tração, servindo para locomoção de pessoas ou
materiais, em alguns poucos lugares ao longo dos séculos. Hoje não é mais usado
como tração. Acho mesmo que, pela lei brasileira, tal prática seria considerada
até maus tratos, pela nossa lei que tipifica os crimes contra o meio ambiente
(lei n. 9605/1998 ).
Esse
citado resumo histórico termina dizendo que o rottweiler é muito indicado como
cão de companhia, proteção, resgate (esta função foi explicitada pela reforma
de 2018) e utilidade.
Assim,
fica claro que o rottweiler, além de ser um cão de companhia, é também um cão
de proteção pessoal e patrimonial. Não vejo maior significado na substituição
da expressão “defesa” pela mencionada expressão “guarda”. Talvez esta nova expressão
seja mais adequada à vigilância dos bens materiais.
Desta
forma, pode-se afirmar que o rottweiler é mesmo um cão multifuncional. Ademais,
é um cão muito amoroso, muito dedicado ao dono. Provavelmente
por isto, ele seja muito ciumento e mais protetor do seu dono e território. Gosta
muito das crianças que com ele convivem.
Por outro lado, para o bom desempenho de algumas das funções citadas no padrão rácico e acima referidas, não se pode desconhecer que os rottweilers têm um temperamento forte, e quando ainda jovens, vão “testar” os seus donos ou adestradores, podendo questionar a sua liderança, através de comportamento de certa rebeldia.
Atualmente temos contatos quase que diários com os nossos trinta e três rottweilers, o que nos proporciona grande experiência. É preciso que o proprietário
do cão e o eventual adestrador tenham o pleno domínio sobre o cão, ou seja,
saibam ser os líderes dos indivíduos ou da matilha. Não se deixem dominar pelo rottweiler,
ainda que parcialmente.
Neste particular, também é relevante a consideração dos genótipos dos cães escolhidos para acasalamentos. O criador deve ter algum conhecimento de genética e fazer acasalamentos estratégicos, com alguma consanguinidade. O criador deve buscar rottweilers homozigotos em termos dos genes determinantes do bom temperamento da sua prole, usando da técnica de "linebreeding". Os fatores exógenos apenas dimensionam os endógenos, não tendo condições biológicas para alterá-los.
Por
derradeiro, não devemos pecar pelos excessos, seja nas características físicas
do rottweiler, seja na intensidade do seu temperamento forte.
Nos
dias atuais, podemos encontrar certos exageros na formação do temperamento da
raça rottweiler, tendo em vista a sua função de proteção e guarda. Alguns
poucos buscam transformá-los em um cão agressivo, feroz ou “mordedor” (expressão
muito usada em nosso meio).
Ora,
o padrão oficial da raça rottweiler é expresso em exigir que ele seja “amigável
e pacífico” e “equilibrado”. Ademais, dispõe serem “faltas desqualificantes”:
cães agressivos, ansiosos, tímidos, ferozes, excessivamente desconfiados e
nervosos.
Então,
o que os profissionais e criadores devem procurar fazer, no relacionamento com
o cão, na socialização do cão e no treinamento do Rottweiler, é se utilizarem de
técnicas moderadas, tendentes a formar um cão altivo, autoconfiante, pronto para uma defesa do
território, pronto para um ataque se for necessário, mas não um cão
desequilibrado.
Como sabemos, é sumamente perigoso um cão
feroz, um cão que possa se tornar uma arma dentro de uma residência ou do
quintal de uma casa. O rottweiler tem que ser equilibrado e o padrão oficial da
raça exige isso logo no seu início.
Verão
de 2025,
Afranio
Silva Jardim, criador de cães há 25 anos. Autor do livro “Rottweiler, Estudos
sobre o Padrão Oficial”, editora Lumen Iuris.
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