ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A REFORMA DO PADRÃO OFICIAL DA RAÇA ROTTWEILER.
Muitos
criadores e juízes cinófilos ainda não assimilaram inteiramente as reformas do padrão
do rottweiler, ocorrida por obra do conceituado clube alemão ADRK, aceita
expressamente pela FCI e pela nossa CBKC.
Toda
mudança sempre demanda algum tempo para ser efetivamente implementada, mormente
quando esta mudança visa justamente barrar uma tendência que poderia
descaracterizar o fenótipo da raça rottweiler.
Isto justifica este singelo texto, que objetiva chamar, mais uma vez, a atenção de todos e todas que lidam com esta nossa excelente raça canina, mormente os novos criadores e o público em geral.
Atualmente, me dedico quase que exclusivamente
às questões relacionadas com a cinofilia, aposentado que estou no magistério
superior e como membro do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Por
meio do meu canil, chamado “Jardim Silva”, por 25 anos, venho criando
inicialmente dogues alemães e, depois, a raça rottweiler.
Escrevi
um livro interpretando o padrão da raça Rottweiler, do qual já tirei três
edições. Agora o livro está com 28 capítulos, quatro anexos, com mais de 200
páginas (Editora Lumen Iuris).
Passo
agora a tecer algumas considerações sobre a mencionada reforma da raça rottweiler.
Importa
esclarecer que existe um padrão oficial da raça rottweiler, elaborado há muito
tempo pelo Clube Alemão ADRK, que é o padrão homologado pela FCI, a entidade
internacional, e pela CBKC, que é a Confederação Brasileira de Cinofilia.
No site da CBKC, o padrão vem publicado,
traduzido do alemão. Neste site, eles publicaram o padrão, colocando em negrito
tudo o que foi acrescentado pela reforma do ano 2018, de modo que a leitura vai
dar perfeitamente a noção do que foi mudado e por que se mudou.
Na
verdade, é fácil constatar que essa reforma se deu basicamente para combater
uma tendência que é mundial, mas muito forte aqui no Brasil também, de
transformar o rottweiler num cão muito pesado, que pode, inclusive, prejudicar
a sua função de guarda e proteção. Não digo em termos de gordura, mas ossatura,
tamanho de cabeça, que o padrão reformado chama de muito molossóide. Esse
nefasto modismo justificou ou motivou a reforma do padrão.
O
padrão reformado em 2018, por exemplo, inseriu na descrição da cabeça a palavra
relativamente largo entre as orelhas. Antigamente falava largo entre as
orelhas, agora é relativamente largo entre as orelhas.
Essa
reforma também acrescentou que o “stop” do rottweiler deve ser relativamente
marcado. Depois, em dois momentos, a
reforma do padrão rácico diz que o focinho do cão não pode ser menor do que
40% de todo o tamanho da cabeça. Vale dizer, o focinho do rottweiler tem
que estar na proporção de um para um e meio crânio. Significa dizer, 40% da
cabeça, vale a pena repetir.
Mais
adiante, o padrão, tratando das faltas morfológicas, dispõe que é falta a
cabeça excessivamente molossóide. Também passou a ser falta o crânio
excessivamente amplo, bem como o “stop” muito pronunciado.
Vejam,
a reforma teve como preocupação quase que exclusivamente a morfologia
esquelética do rottweiler, que tendia a ficar muito, muito molossóide, conforme
passou a falar o padrão.
Depois,
preocupado com a cabeça muito larga entre as orelhas, a reforma diz ser faltoso
o rottweiler cujos molares da mandíbula não se perfilhem em linha. Uma cabeça
muito larga no crânio não acomoda convenientemente a dentição do cão,
levando-se em conta um focinho indevidamente curto e estreito.
Ademais,
o padrão rácico passou a dispor que as orelhas do rottweiler não podem ser
muito altas. Foi acrescentada a expressão muito altas.
Não
existia, no padrão original, um título cuidando das faltas graves. Em 2018, foi
acrescentado um tópico ao padrão, elencando as faltas graves, cabendo
ressaltar, como novas faltas graves o fenótipo muito molossóide e aparência
geral pesada.
Por derradeiro, com a mencionada reforma do padrão
da nossa raça, passaram a ser faltas graves também a pele na cabeça
intensamente enrugada, rugas pronunciadas na área da testa, no focinho, nas
bochechas e barbelas nítidas, ou sejam, aquelas peles soltas no pescoço. O
pescoço não deve ser curto e grosso.
É
também é falta grave a movimentação lenta durante o trote, o que não significa
que o rottweiler tenha que ser um cão de corrida ou maratonista. Tão importante
é examinar a movimentação dos cães em círculo como também é relevante o exame deles
em linha reta (ida e volta), como já demonstrei em texto constante do meu livro
acima citado.
Finalmente,
é de relevo acentuar que a referida reforma aditou ao padrão oficial algumas
exigências com relação ao temperamento do rottweiler. Ao tratar do comportamento/temperamento,
a reforma salientou que o cão deve ser equilibrado. Na sua parte
final, ao elencar as faltas desqualificantes, ao padrão, após mencionar os cães
agressivos, foi acrescentado: “animais ansiosos, tímidos, covardes, com
medo de tiro, ferozes, excessivamente desconfiados, nervosos”.
Consoante
sustento em meu supra mencionado livro de intepretação do nosso padrão oficial,
a gravidade dos defeitos da raça rottweiler pode ser aumentada, tendo em vista
a sua intensidade e os seus malefícios para a saúde e bem estar do cão. Isto se
depreende da seguinte norma existente no padrão rácico: “Faltas: qualquer
desvio dos termos deste padrão deve ser considerado como falta e penalizado na
exata proporção de sua gravidade e seus efeitos na saúde e bem estar do cão”.
Por
outro lado, uma grande quantidade de faltas tidas como leves pode comprometer
até mesmo a tipicidade da raça. A tipicidade é inerente mesmo à ideia de raça.
Vale dizer, sem tipicidade não há raça canina. O gosto pessoal, neste particular,
é absolutamente secundário.
Verão
de 2025,
Afranio
Silva Jardim, criando cães há 25 anos.
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