BREVES NOTAS SOBRE AS ORELHAS DO ROTTWEILER

 

Assim como outras partes do rottweiler, as orelhas são instrumentos de sua linguagem gestual. Qualquer cinófilo sabe muito bem interpretar as diversas posturas do rottweiler, chegando mesmo a antever algumas de suas condutas.

Nas exposições caninas, os juízes dão especial atenção às orelhas dos cães, que muito dizem sobre o seu temperamento, grau de atenção ou foco, etc. Também por isso, elas devem ser íntegras, não mutiladas.

O padrão oficial da raça rottweiler descreve como devem ser as suas orelhas, bem como como devem ser inseridas ou portadas.

Note-se que aqui também se utiliza de algumas expressões de sentido não muito determinado, dificultando uma interpretação que seja totalmente consensual. Daí por que temos sempre que utilizar exegeses sistemáticas e teleológicas.

Neste processo interpretativo, devemos conjugar as normas que descrevem as características do cão com as normas que explicitam as faltas e defeitos morfológicos do indivíduo.

Exige o mencionado padrão rácico que as orelhas do rottweiler sejam “de tamanho médio, pendentes, triangulares, bem separadas, de inserção alta”. Nesta mesma regra, o padrão  assevera que as orelhas devem ser portadas “caídas bem rentes às faces”.

Para bem entender o que o padrão da raça está dispondo, precisamos ver o que ele dizendo sobre as faltas relativas às orelhas, método interpretativo acima referido.

O que seria “inserção alta”?

Ora, o padrão diz ser falta as “orelhas inseridas muito baixas ou muito altas”. Cabe aqui concluir que a palavra determinante é o advérbio “muito”. Na maioria das raças caninas, a grande questão é o equilíbrio entre as suas proporções, vale dizer, tudo deve ser moderado na parte física do rottweiler.

Assim, arrisco a afirmar que as orelhas devem ser inseridas de modo que as suas dobras da parte superior fiquem no mesmo nível da superfície alta do crânio.

A exigência de “tamanho médio” pode gerar divergências interpretativas, embora o padrão recrimine as orelhas “pesadas e longas”. Julgo que estas expressões meio indeterminadas devem ser consideradas em proporção à cabeça deste ou aquele indivíduo. Dependendo do tamanho e volume da cabeça, as orelhas podem ser maiores ou menores, desde que proporcionais e simétricas. Vale dizer, um tamanho de orelha pode ser considerado grande em um cão menor e pequena em um cão que tenha uma cabeça bem maior.

Por fim, serão pesadas aquelas que não permitirem a conhecida expressão de atenção do rottweiler (breve elevação).

Cabe, ainda, salientar que o padrão oficial da nossa raça deseja que as orelhas tenham formato triangular. Lógico que este desenho não deve ser interpretado rigidamente, pois esta figura geométrica é usada apenas como um meio de se evitarem orelhas longilíneas ou redondas.

Trata-se de um aproximado triângulo, não ficando muito claro o seu tipo (equilátero ou isósceles), sendo natural que as pontas das orelhas tenham algum leve arredondamento.

Por derradeiro, o padrão pede que as orelhas do rottweiler sejam pendentes e “caídas bem rente às faces”, sendo falta orelhas “caindo abertas” e “dobradas para trás”.

Salientamos não nos parecer ético o comportamento de alguns poucos criadores que se utilizam de recursos vários e até cirúrgicos para “consertar” estes defeitos morfológicos das orelhas do rottweiler. O fenótipo do cão é determinado pelos seus genes (genótipo) e são eles transmitidos para as suas proles...

Concluo, ressaltando um aspecto que me parece da mais alta relevância: as faltas acima apontadas e que estão expressas no padrão oficial não são consideradas graves, mesmo porque não afetam a saúde ou bem estar do cão, conforme regra também constante do tão citado padrão.

Entretanto, conforme sustento em meu livro sobre o padrão do rottweiler, a maior dimensão do defeito físico e de sua quantidade, podem  atingir a tipicidade da raça, inerente à sua própria existência. Não seria rottweiler um cão que tivesse as imensas orelhas semelhantes às de um Lhasa Apso ou Cavalier ...


Verão de 2025

Afranio Silva Jardim, criador de cães há 25 anos. Autor do livro “Rottweiler, Estudos sobre o Padrão Oficial”, editora Lumen Iuris, 3ª.edição, 2024.

 


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