BREVES NOTAS SOBRE O PESCOÇO DO ROTTWEILER

 

Das múltiplas funções do pescoço dos cães em geral, podemos destacar a de sustentar a cabeça, manter o equilíbrio do animal, potencializar a propulsão traseira e orientar a direção do cão em movimento.

Dito isto, fica constatada a importância do pescoço na estrutura e movimentação do rottweiler, raça que aqui é a nossa preocupação e atenção. Vamos fazer uma sucinta análise destas principais funções do pescoço dos cães da nossa raça.

Tendo em vista que o pescoço tem como uma de suas funções servir de suporte da cabeça, fica patenteada a íntima relação entre o tamanho e peso da cabeça com a espessura e comprimento do pescoço. Assim, um cão com cabeça pesada exige um pescoço mais curto e grosso, sendo verdadeiro o inverso.

Desta forma, não tendo o rottweiler uma cabeça braquicéfala (largura maior do que o comprimento, em termos não técnicos), fica bastante lógico o que dispõe o padrão rácico, exigindo um pescoço “moderadamente longo, com uma linha superior ligeiramente arqueada”, devendo ainda ser forte e musculoso.

Note-se que, no padrão oficial, foi inserida, na reforma de 2018, como falta grave, o “tipo muito molossóide e aparência geral pesada”. Muitos até hoje não se deram conta desta oportuna alteração do padrão, proposta pela ADRK e homologada pela nossa CBKC.

Cabe ressaltar que normalmente o cão pesado e muito molossóide apresentará, em seu curto pescoço, peles soltas (barbelas exageradas) e/ou peles soltas sob a garganta, defeitos consignados textualmente no padrão oficial da raça rottweiler.

Na verdade, também na morfologia canina, a moderação é sempre mais do que desejável, por isso o tão citado padrão pune com falta (embora não grave) o pescoço “muito longo, fino e pobremente musculoso”.  O corpo do cão é um verdadeiro sistema, também regido pelas “leis” da física mecânica. A grande alteração de uma de suas partes levará à alteração do todo...

Como sustentamos em nosso comentário sistemático ao padrão oficial da raça rottweiler, uma falta leve ou grave pode se tornar desqualificante quando o defeito morfológico for extremado, tirando do cão a necessária tipicidade ou afetando a saúde ou o bem-estar do animal, segundo interpretação sistemática de suas regras expressas.

Seguimos tratando das outras funções do pescoço do rottweiler.

O pescoço do rottweiler, como em geral das outras raças, também serve para manter o equilíbrio estático do cão. Estando ele em posição correta, o centro de gravidade permanece adequado e o rottweiler tem um “stay” natural, certo e confortável.  Assim, o pescoço indevidamente projetado para frente, para lá desloca o centro de gravidade, desequilibrando o peso do rottweiler, exigindo mais dos membros anteriores e tornando mais “leve” as partes traseiras do animal.

Partindo destas considerações, fica fácil perceber a relevância da posição do pescoço para o início da movimentação do rottweiler, tirando da posição estática e facilitando o impulso inicial da sua movimentação. Como sabemos, o passo do cão nada mais é do que uma queda não realizada pela retomada de seu equilíbrio. Assim, fica facilitada a propulsão traseira do cão, realizada por seus membros posteriores, vez que a posição avançada do pescoço o desequilibra para frente. A força propulsora traseira será transmitida para a sua parte frontal pela rígida coluna (viga) e lá já não mais vai encontrar maior resistência estática.

Por derradeiro, ainda partindo destas premissas elencadas acima, constatamos que o pescoço do cão, projetado à frente em determinada direção (direita, esquerda, por exemplo) dará à movimentação do rottweiler o seu rumo, vale dizer, influi no passo dos membros anteriores e inclinará o seu corpo para a direção escolhida.

Talvez possamos dizer, forçando um pouco a situação, que um cão que não tivesse, por patologia rara, a possibilidade de mexer o seu pescoço, não teria ele a possiblidade de se movimentar em direção lateral, vale dizer, movimentar-se em círculo. Isto mostra a relevância do pescoço também nesta função canina.

Diante disto tudo, podemos chegar à conclusão de que um cão com pescoço muito curto e grosso perde em muito a sua agilidade, a sua “explosão” para se movimentar de forma mais rápida e romper determinados obstáculos. Um rottweiler muito pesado, muito molossóide, terá um pescoço inadequado à sua funcionalidade, muito prejudicando a sua função de guarda e proteção. Deve ser um cão mais baixo e, por isso, mais longo e menos compacto. Será um cão menos expedito e mais lento do que aquele para que foi destinada a raça.

Importante notar, outrossim, que o melhor desempenho das funções do pescoço do rottweiler fica também dependendo da sua correta inserção no tronco do animal, tendo em vista a angulação da escápula e ainda o correto arqueamento costelar. Uma inadequação do ombro e da caixa torácica do rottweiler podem prejudicar a melhor inserção do pescoço entre a coroa das escápulas (cernelha).  Provavelmente, isto irá prejudicar a movimentação do rottweiler, o que aumenta o seu desgaste físico, acentuando indevidamente a perda de energia do cão.

 

Verão de 2024,  Afranio Silva Jardim, criador de cães há 24 anos, titular do Canil Jardim Silva, registrado na CBKC sob o n.1759/2000, professor  universitário associado (Uerj – mestre e livre docente) e membro do Ministério Público (aposentado). Autor do livro “Rottweiler, Estudos sobre o Padrão Oficial”, Editora Lumen Juris.

 


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