A DESCARACTERIZAÇÃO DAS RAÇAS DE CÃES
Abaixo, vamos elencar os
principais motivos que levam à descaracterização das raças caninas.
Notem que alguns destes
motivos estão interligados e apresentam uma verdadeira relação de causa e
efeito.
Ademais, eles se auto realimentam
e acabam por criar um verdadeiro “círculo vicioso”, não percebidos por alguns,
tornando difícil reverter esta involução deletéria.
1) Tendência
entre os criadores mais competitivos em acentuar, cada vez mais, determinadas
características da raça canina;
2) Modismos:
muitos decorrentes de apelos comerciais, ou seja, influência do que se
convencionou chamar de “mercado”;
3) Ausência
de estudo por parte dos criadores, que carecem de informações sobre a genética relativa
à reprodução de cães. Baseiam seus acasalamentos apenas no fenótipo (por vezes,
ruim), desprezando o estudo dos genótipos dos cães escolhidos para acasalamentos;
Ausência de uma estratégica técnica de criação;
4) Ausência
de criadores estudiosos, que conheçam e interpretem sistematicamente o padrão
oficial da raça que criam. Muitos se utilizam apenas de informações empíricas e
da experiência, por vezes, deformadas e equivocadas;
5) Resultados
equivocados do julgamento em exposições de beleza, gerais ou especializadas,
decorrentes de vários fatores, conforme mencionei em texto publicado em meu
blogue: caniljardimsilva.blogspot.com
Os
julgamentos servem de referência para os criadores e para o público leigo. Nem
sempre eles estão em conformidade com os padrões das diversas raças que são
apresentadas nas exposições.
6) Publicidades
enganosas e sem maior rigor ético sobre a qualidade de cães e seus filhotes,
sempre em busca de recursos financeiros, ao arrepio do que dispõe o padrão oficial
da raça, que sequer é mencionado. O público leigo acaba adquirindo filhotes que
poderão vir a servir para descaracterizar a raça.
7) Por
exemplo: o título não é “Campeão Brasileiro”, mas sim “Campeão”, no Brasil, na
Argentina, na Bolívia, etc. O leigo acaba pensando que o cão competiu com os melhores
de todo o Brasil, quando pode apenas ter obtido os CACs exigidos pelo
regulamento ...
8) Omissão
dos clubes especializados e dos conselhos das raças em divulgar os padrões
oficiais e orientar os novos criadores sobre a necessidade de obedecer às suas
regras e características ali elencadas:
9) O
surgimento de um artificial “padrão de beleza” entre criadores e juízes de cães,
priorizando apenas algumas características do animal, desprezando outras dimensões
e proporções do cão, importando mais o gosto pessoal do que o disposto no padrão
rácico, vale dizer, dando pouca relevância a uma correta estrutura e dinâmica do
cão.
Não se trata de adotar uma
postura conservadora e tentar impedir a evolução natural das raças caninas, mas
sim de procurar evitar que sejam radicalmente alteradas as características essenciais
que outorgam tipicidade às diversas raças e lhes dão a necessária funcionalidade,
para a qual foram cunhadas ao longo de décadas, ou mesmo, séculos.
Do exposto acima, constata-se
que criadores e juízes de cães têm grande responsabilidade no desvirtuamento
das raças, mormente existindo padrões escritos e acolhidos mundialmente pelas
mais representativas entidades de cinofilia (CBKC e FCI).
De qualquer forma, os
padrões ainda funcionam como uma espécie de freio a estes desvarios comerciais
e também à falta de conhecimentos técnicos de alguns criadores e árbitros de
exposições. Vale dizer, o padrão é a salvação das raças. Sem ele, tudo restará
perdido.
Afranio Silva Jardim,
criador de cães há 23 anos.
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