O ROTTWEILER NÃO DEVE SER UM CÃO LONGO

 

Tenho dito em outros escritos, que o conhecimento nos facilita conhecer a realidade e nos permite viver mais intensamente. Ademais, o conhecimento nos orienta nos comportamentos e na escolha de nossas condutas.

Logicamente, isto se aplica à criação de cães e, mais especificamente, à criação da raça rottweiler, tema que ora nos ocupará.

Desta forma, é necessário conhecer o sistema normativo retratado no padrão oficial desta raça canina, adotado pela nossa Confederação Brasileira de Cinofilia, conforme textos constantes do recente livro que publiquei este ano (“Rottweiler, Estudos sobre o Padrão Oficial, Rio, Editora Lumen Iuris, 2023).

Além disto, é imperioso saber aplicar corretamente os preceitos do padrão na prática, vale dizer, selecionar adequadamente os cães a serem acasalados no aprimoramento do plantel canino, seja considerando o genótipo, seja considerando o fenótipo dos rottweilers.

O mencionado padrão rácico expressamente exige que o rottweiler seja um cão robusto, compacto e forte, de modo a ser um indivíduo potente, ágil e resistente. Vale dizer, uma estrutura corporal que lhe dê condições para desempenhar a função de proteção ou guarda.

Por outro lado, o padrão foi modificado em 2018 para coibir os exageros de alguns criadores, punindo como faltas graves o rottweiler de “aparência geral pesada e de tipo muito molossóide”, dentre outras novas regras com o mesmo escopo.

Assim, deseja-se um equilíbrio nas proporções morfológicas do cão. Moderação pode ser a nossa “palavra chave”. Não se altera impunemente o centro de gravidade do animal, pois seu corpo é um sistema regido pelas leis da física mecânica. Tudo isto está ligado à movimentação, resistência física, bem estar e saúde do rottweiler.

Por estes motivos, o padrão oficial da nossa raça postula que o rottweiler seja o mais “quadrado” possível, explicitando algumas dimensões corporais para o atingimento deste objetivo.

Desta forma, simplificadamente, pode-se dizer que a linha superior do rottweiler deve ter aproximadamente a mesma dimensão da sua altura. Explicando mais tecnicamente: o comprimento do tronco do cão não deve ser superior a quinze por cento da altura de sua cernelha, tendo como referência aqui o solo. Por outro lado, mede-se o tronco da ponta do osso esterno até o ísquio.

Outra característica importante em termos de se outorgar ao rottweiler a aparência forte e compacta, é a maior profundidade do seu peito, que deve atingir cinquenta por cento da altura da cernelha, vale dizer, chegar até os cotovelos do cão. Ademais, o antepeito deve ser bem desenvolvido e moderadamente largo.

Importante notar que estas dimensões, desejadas pelo padrão da raça, podem trazer algum problema na movimentação do rottweiler, possibilitando que as patas traseiras toquem nas patas dianteiras, o que é absolutamente indesejável, pois o cão irá então “caranguejar”, vale dizer, trotar um pouco lateralmente, um pouco de lado, para impedir este danoso choque entre suas patas.

Para evitar este defeito, ou seja, esta falta na movimentação do rottweiler, torna-se imperiosa a harmonia entre a angulação escápulo-umeral e angulação coxo-femural. Elas devem ter ângulos muito semelhantes de modo a que o alcance desequilibrado dos membros do cão não proporcione o contato entre as patas de seus membros, consoante acima referido. Aqui se confirma, mais uma vez, o caráter de sistema do corpo do rottweiler.

Por derradeiro, umas observações talvez menos técnicas:

1) o cão com tronco muito longo quase sempre em uma garupa muito inclinada, com baixa inserção de sua cauda, que são características indesejáveis;

 2) o tronco muito longo do cão não se apresentará muito firme ou rígido, o que criará uma perda ou desperdício da forma de transmissão da força propulsora decorrente dos membros traseiros, pois a coluna (viga) pode restar um pouco flexível;

 3) o alcançe dos membros traseiros ficará muito aquém das patas dianteiras no trote do cão, prejudicando a harmonia da movimentação do rottweiler, dando a impressão de sua frente e sua parte traseira serem conjuntos mais ou menos “independentes”, ou seja, cão não compacto.

Concluímos, chamando a atenção para que tais características corretas e exigidas pelo padrão da nossa raça sejam fixadas através de acasalamentos estratégicos (linebreedings), constituindo-se “linhas de sangues” geneticamente fortes, (homozigotos com genes dominantes), através de gerações corretamente selecionadas. A raça rottweiler nos “agradecerá” ...

 

Inverno de 2023

Afranio Silva Jardim, titular do Canil Jardim Silva há 23 anos.

(As fotos são da nossa Cuba Kanto do Jardim Silva, com 11 meses)

 

 


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