ROTTWEILER: BREVE EXAME
DE SUA “LINHA SUPERIOR”
Em sentido amplo,
pode-se considerar como linha superior de um cão sua anatomia entre a ponta da cana
nasal (trufa) e a última vértebra de sua cauda. Em um sentido estrito, tal
linha iria desde a inserção do pescoço no tronco até o osso ísquio (raiz da
cauda).
Ainda que superficialmente,
vamos tratar da linha superior mais ampla, esclarecendo que algumas de suas
partes já foram estudadas em outros textos, todos publicados em caniljardimsilva.blogspot.com
Com sempre, este escrito
tem por base o que está dito no padrão oficial da raça, atento à reforma de
24.07.2018.
O padrão é a “lei” de
todo criador responsável. Não se cria baseado em gostos pessoais, mas sim em
obediência ao padrão rácico. Sem tipicidade, não há raça canina, vale a pena
repetir mais uma vez.
Na extremidade da cana
nasal, que compõe o focinho de rottweiler, situa-se a trufa do animal, exigindo
o padrão oficial da raça que ela seja de cor preta, com narinas relativamente
grandes, mais largas do que redonda. A cana nasal é a parte superior do focinho,
devendo ela ser “reta, larga na raiz, estreitando moderadamente em direção à
trufa”.
Importante salientar que
o padrão é expresso em exigir uma cana nasal reta e larga. Assim, não é
permitido um focinho muito “arredondado” em sua parte superior, bem como um focinho
arrebitado ou voltado para baixo (caído). Embora o crânio do rottweiler não
seja plano, não é desarrazoado em se falar em um certo paralelismo entre seu focinho
e seu crânio.
Importante não esquecer
que o focinho do rottweiler não deve ser curto. A cabeça do rottweiler não é
braquicéfala, considerando o seu índice cefálico (largura x cem, dividido pelo
seu comprimento). O padrão é expresso em definir o que considera um focinho curto:
focinho menor do que quarenta por cento do comprimento de toda a cabeça do
rottweiler.
Note-se que esta é a
proporção MÍNIMA do focinho, sendo recomendado que ele seja um pouco mais longo,
pois o padrão só pune o focinho curto, dizendo que ele deve ter uma relação
APROXIMADA de 1 para 1,5, considerado aqui o crânio do rottweiler.
Esta importante
característica da raça evita os indesejáveis olhos redondos, esbugalhados e
frontais, próprios do pug, boxer e outras raças caninas. Precisamos combater o
modismo prejudicial à tipicidade da nossa raça, criando e comercializando rottweilers
com cabeças atípicas, com sérias consequências para a estrutura e saúde dos cães.
Não vamos aqui analisar
as demais características da cabeça do rottweiler. Já o fizemos em vários
outros textos publicados em nosso supra citado “blog”.
Entretanto, não podemos
deixar de alertar que a reforma do padrão oficial da raça de 2018 acrescentou a
palavra “RELATIVAMENTE” para vetar que a região craniana seja muito larga entre
as orelhas, o que levaria a vários problemas para o cão, inclusive o desalinhamento
dos dentes molares. Vale dizer, o certo é crânio não muito largo e de comprimento
médio.
Acredito poder classificar como próximo do
lupóide a cabeça do rottweiler, com forma parecida a uma pirâmide ou de um “suave”
triângulo (triângulo isósceles). Ela deve ser próxima da cabeça dos
mesaticéfalos, um pouco mais larga, entretanto. O “stop” não deve ser muito
marcado e o sulco frontal não deve ser muito profundo, diz o padrão rácico. A
inserção das orelhas não devem ser muito altas e nem muito baixas.
O mais importante é notar que o padrão exige
um pescoço moderadamente logo, ligeiramente arqueado. Lamentavelmente, esta relevante
característica pouco se vê nos dias de hoje, pois muitos estão criando cães
muito molossóides e de aparência geral pesada (faltas graves, explicitadas no
padrão).
Como se sabe, cabeça pesada
e pescoço curto e grosso deslocam o centro de gravidade do cão para a frente,
prejudicando a movimentação e a resistência do rottweiler.
Notem que o pescoço deve
ter uma inserção correta no tronco do cão (ângulo anterior da coroa da escápula
(cernelha). O pescoço desempenha importantes funções na movimentação dos cães, dando-lhes
equilíbrio e orientando a direção a ser imprimida.
Como aprendemos logo no
ensino básico, o corpo humano pode ser dividido em cabeça, tronco e membros. O
mesmo pode ser dito em relação aos cães. Então, vamos refletir sobre a “linha
superior” do tronco dos rottweilers, escopo principal deste superficial estudo.
Aqui apenas a linha superior, vale ressaltar.
A linha superior do
corpo do cão (tronco) se divide em dorso, lombo e garupa. Diz o padrão oficial
da raça que o dorso do rottweiler deve ser “reto, firme e forte”. O lombo deve
ser “curto, forte e profundo, bem como a garupa deve ser “larga, de comprimento
médio, ligeiramente arredondada, nem plana e nem caída (angulação média).
Desta forma, não se
admite seja a linha superior do rottweiler selada (lombo cedido), arqueada (lombo
e garupa caída, formando um arco) e nem carpeada (depressão na junção
dorso-lombo, com a garupa alta, formando um arco menor).
Estas faltas, previstas
no padrão rácico, não são raras e quase sempre prejudicam a movimentação do
cão, motivo pelo qual é um grande erro avaliar um rottweiler a partir apenas de
fotos frontais ou mesmo diagonais.
Como se tem dito, o
rottweiler deve ser morfologicamente equilibrado e proporcional. Nada deve ser
exagerado. O corpo é um sistema e a alteração de um de seus componentes afeta o
conjunto...
Isto tem maior
relevância ainda em se tratando da coluna vertebral do rottweiler. Na verdade,
a expressão “coluna” é mais adequada para os animais de postura ereta. Nos
cães, ela funciona mais como uma “viga”, que liga dois pontos de sustentação.
Esta coluna (viga),
dorso, lombo e garupa, tem uma função absolutamente relevante: ela é “linha de
transmissão” da força propulsora do cão, que vem da articulação dos membros traseiros
ou posteriores. Tal força de propulsão, que retira o cão da posição estática,
está muito relacionada com as angulações existentes na parte posterior do animal,
mas sua melhor transmissão depende da rigidez e correção da referida coluna
vertebral (viga).
Assim, um dorso oscilante,
não firme, levará à perda desta energia, vale dizer, não teremos a otimização
da transmissão da força propulsora traseira do cão.
Tal defeito quase sempre
ocorre quando o rottweiler tem um tronco muito longo, motivo pelo que o padrão
dispõe que ele não deve ser maior do que 15% da altura da cernelha ao chão. Tal
comprimento considera o espaço que vai da ponta do osso externo até o osso
ísquio (extremidades do tronco canino). Vale dizer, o rottweiler deve ser o
mais quadrado possível, sendo uma figura compacta e robusta.
Importante ainda notar,
embora não se refira à linha superior do rottweiler, que a caixa torácica não
deve ser fina (em forma de quilha) e nem muito larga (em forma de barril),
sendo que o peito deve ser “amplo, largo e profundo” e deve chegar até os
cotovelos do cão.
Notem que uma garupa
muito inclinada, além de comprometer a harmonia das angulações do rottweiler,
exigirá uma inserção de cauda muito baixa, a qual poderá ficar muito abaixo dos
jarretes dos membros posteriores. Também esteticamente o cão fica prejudicado.
A inserção da cauda está vinculada ao comprimento
e angulação do osso ílio. O padrão pune como falta a cauda com inserção muito
alta ou muito baixa.
A cauda é, de certa
forma, um prolongamento da coluna (viga), sendo composta de várias outras vértebras.
A cauda tem relevância no equilíbrio e na tomada de direção do cão em
movimento, sendo também um instrumento da linguagem gestual do cão.
Pelo padrão da raça
rottweiler, a cauda deve ser íntegra (nos Estados Unidos é permitida a sua
amputação), forte e nivelada à linha superior do rottweiler. Em repouso, a cauda
pode ser pendente, bem como pode formar uma “curva suave” quando o rottweiler
estiver em estado de alerta ou em movimento.
Por derradeiro, cabe
ressaltar que o padrão rácico exige a desclassificação do rottweiler que tenha “cauda
naturalmente curta”, cauda enroscada, com forte desvio lateral e também a
chamada “cauda quebrada”.
Julgo que, neste
particular, o padrão foi excessivamente severo e precisa de uma “interpretação flexibilizante”,
dentro do princípio da razoabilidade.
Até algumas décadas atrás,
era exigido o corte da cauda, como ainda ocorre em alguns países. Ora, se as caudas
eram cortadas logo após o nascimento dos filhotes, geneticamente não se sabia
qual cauda apareceria no fenótipo do cão.
Não é razoável se exigir,
de forma tão rigorosa e severa, que as caudas tenham formatos tão específicos,
não havendo ainda tempo suficiente para os criadores selecionarem geneticamente,
através das várias gerações, a cauda idealizada pelo padrão oficial.
Notem que a postura da
cauda, suas várias posições, está muito ligada ao temperamento do animal e das
circunstâncias que o cercam em determinado momento.
Ademais, um “desvio”
morfológico da cauda do rottweiler em nada afeta a saúde e as funções do
rottweiler. Por exemplo: um leve desvio no sequenciamento das vértebras da cauda
não deve ser punido pelos árbitros nas exposições de trabalho ou beleza. É o
que tem ocorrido na prática, tendo em vista a sabedoria dos árbitros e das árbitras
da CBKC.
Afranio Silva Jardim,
titular do Canil Jardim Silva há 23 anos.
Comentários
Postar um comentário