UM OUTRO PROBLEMA PARA A SAÚDE DO ROTTWEILER

 

O nefasto modismo de criar cães da raça rottweiler com cabeças muito largas e curtas tem trazido para a nossa raça alguns danos à saúde dos animais que antes eram muito raros.

 

Pelo índice cefálico, constata-se que o rottweiler não tem – ou não devia ter – uma cabeça do tipo braquicéfalo. Esclarece o “Manual de Estrutura e Dinâmica do Cão”, editado pela CBKC, sobre os braquicéfalos:  

  “Possuem o índice cefálico mais alto. A cabeça é de comprimento sensivelmente diminuído em benefício da largura. Constituem características desta cabeça: comprimento do crânio ligeiramente maior do que a largura; occipital, crista interparietal e crista frontal praticamente imperceptíveis; testa alta e reta. Focinho sensivelmente mais curto do que o crânio. Stop abrupto e sempre muito marcado. Mordedura: prognatismo inferior ou tesoura invertida” (2ª. Edição, 1994, p.36).

 

Ora, todas estas características acima apontadas são punidas severamente pelo padrão oficial da raça rottweiler. São faltas graves ou desqualificantes expressas no padrão, motivo pelo qual esta cabeça leva à indesejável atipia. Sem tipicidade, não há raça canina.

 

Importa ressaltar que esta anomalia morfológica não causa, no rottweiler, defeitos apenas na sua estrutura e dinâmica, mas acarreta para o animal disfunções e sérios danos à sua saúde e bem-estar.

 

Notem que o citado padrão rácico se preocupa expressamente com o bem-estar do rottweiler, dispondo ser falta “qualquer desvio dos termos deste padrão, devendo ser considerado como falta e penalizado na exata proporão de sua gravidade e SEUS EFEITOS NA SAÚDE E BEM ESTAR DO CÃO” (grifamos). Esta anomalia morfológica (cabeça excessivamente pesada) causa danos indesejados pela regra ora transcrita.

 

Além da já conhecida deficiência respiratória em face do focinho curto, a cabeça muito larga entre as orelhas (proibida pelo padrão) é fator que pode determinar o desalinhamento dos dentes molares e, o que é mais grave, o prolapso da terceira pálpebra. Esta última patologia prejudica não só a estética do cão como também a sua visão.

 

O prolapso da terceira pálpebra é mais comum ou frequentes nas cabeças caninas muito largas, com olhos frontais, mais próximos, redondos e salientes (arregalados). Tudo o que o nosso padrão não deseja e recrimina expressamente ...

 

Sobre o que acima dissemos, vale a pena consultar o excelente texto da veterinária e criadora da nossa raça Dra. Bárbara Sansão, publicado no importante “Anuário 2021 – Rottweiler, Destaques da Raça”, publicado por Rottweiler de Verdade (Cris Dalle Molle e Ricardo Carvalho).

 

Após citar o estudo do professor alemão Peter Friedrich, também publicado nesse Anuário, a Dra. Bárbara Sansão esclarece:

 

“Algumas raças são descritas como predispostas, principalmente raças braquicéfalas, acreditando-se que o prolapso seja decorrente da hiperplasia glandular, devido à malformação da órbita e das pálpebras em cães desta raça, que aumentam a exposição das conjuntivas”.

 

A gravidade desta patologia fica evidenciada pela ausência de tratamento clínico, sendo necessária a intervenção cirúrgica. Mesmo ela, algumas vezes, não é satisfatória, vez que a “ocultação” da terceira pálpebra nem sempre se consolida, havendo grande probabilidade de recidiva.

 

Eu mesmo tenho, em meu plantel, uma cadela com este problema. Após alguns meses da aquisição, ela apresentou o prolapso de terceira pálpebra, nos dois olhos. Em um olho, a veterinária conseguiu a ocultação definitiva da glândula. No outro olho, a solução foi a sua total retirada cirúrgica ...

 

De qualquer forma, a retirada da terceira pálpebra, que pode ser uma outra opção cirúrgica, vai criar sérias dificuldades de produção das indispensáveis lágrimas no cão (sequela permanente). O paliativo seria o uso diário e reiterado de colírio específico, desagradável trabalho para o criador e desconforto perene para o animal.

 

Assim, por tudo isso e pela necessidade de sermos fiéis ao padrão oficial da raça, devemos combater veementemente esta deletéria prática de criar rottweilers atípicos e não funcionais, cabendo também aos árbitros a grande responsabilidade de não premiá-los nas exposições. Vamos evitar a descaracterização da nossa raça.

 

Afranio Silva Jardim – titular do Canil Jardim Silva, registrado na CBKC desde o ano 2.000.

 

 

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