SOBRE A CRIAÇÃO DE CÃES. O ROTTWEILER NÃO É UM BRAQUICÉFALO.

 

A criação de cães nos proporciona momentos relevantes em nossas vidas. Se a vida se faz de emoções, como dizem alguns, tenho de dizer, com o poeta e prêmio Nobel Pablo Neruda: "Confesso que vivi" (importante autobiografia).

 

Por vários anos, (2005/2013), fomos os melhores criadores do Brasil da raça Dogue Alemão, (variedade dourados/tigrados), desenvolvendo uma prática, na criação e exposições, absolutamente ética.

 

Agora, voltamos à cinofilia criando rottweilers, em um ritmo bem mais "devagar".

 

Julgo relevante que, com algum conhecimento de genética animal, se criem verdadeiras linhagens (linhas de sangue), fixando no plantel as corretas características da raça, segundo padrão adotado pela FCI e CBKC. Para tanto, devemos utilizar na criação acasalamentos entre parentes colaterais ("line breeding"), conhecendo muito bem o genótipo dos exemplares utilizados.

 

Como nos dizem a genética e a estatística, através do "line breeding", fica mais fácil conseguir exemplares que sejam homozigotos, em genes dominantes, nas características rácicas desejadas. Assim, tais boas características passarão necessariamente à sua prole.

 

A “linha de sangue” se estabelece após três gerações resultantes de acasalamentos com alguma consanguinidade.

 

A importação de um excelente padreador não significa a importação de uma “linha de sangue”, ainda que ele seja geneticamente forte (resultante de “line breedings de seus ascendentes).

 

Tecnicamente, será preciso acasalar este cão   importado com fêmeas de excelentes fenótipos. Genótipo e fenótipo devem ser bem avaliados. Num segundo momento, acasalá-lo com suas sobrinhas ou acasalar seus descendentes entre si, que sejam parentes (primos, por exemplo). A partir daí, novos acasalamentos, bem planejados, poderão fixar características de uma determinada “linha de sangue”.

 

Importante não exagerar na consanguinidade, para não aumentar o risco de doenças ou defeitos na prole. Assim, devemos introduzir. na criação, cães de uma outra linha de sangue já conhecida, testada e aprovada. Por isso, o ideal é que o criador trabalhe mais de uma “linha de sangue”.

 

Notem que um acasalamento “aberto”, com cães de ascendência desconhecida, pode estragar todo um lento e custoso trabalho do criador, introduzindo defeitos genéticos e morfológicos na criação, defeitos estes que podem demorar gerações para serem excluídos.

 

O ideal é obtermos cães homozigotos nas boas características geneticamente dominantes, não custa repetir. Os homozigotos nas características decorrentes de genes recessivos só devem acasalar com cães com situação genética idêntica. Caso contrário, o fenótipo da prole pode retratar defeitos trazidos pelo novo cão usado na criação.

 

Precisamos, ainda, combater os nefastos modismos, muito influenciados pelos deletérios interesses comerciais.

 

 

Neste particular, critico aqueles que estão desenvolvendo uma cabeça disfuncional no rottweiler (grande, larga e com focinho curto, o qual exige um pescoço grosso e também curto, com barbelas).

 

Pelo índice cefálico, o rottweiler não é "braquicéfalo" e mais se aproxima dos "mesaticéfalos", consoante se depreende da reforma do padrão rácico de 18. Vejam a respeito corretas e didáticas explicações constantes do indispensável “Manual de Estrutura e Dinâmica do Cão, publicado pela BKC, 2ª. Edição, p.34/38.

 

Por mencionado padrão rácico, são faltas graves: "tipo muito molossóide e aparência geral pesada", dentre outras características expressamente vedadas pelo citado padrão, mas indevidamente toleradas pela criação atual.

 

Do padrão oficial da FCI e CBKC, ainda destacamos os seguintes itens, que bem demonstram como o "rottweiler pesado" está descaracterizando a raça e tornando-o um exagerado "molossóide", com grande dificuldade para as funções a que se destina e também em prejuízo para a sua saúde.

 

Está escrito no padrão rácico:

 

Crânio de comprimento médio, RELATIVAMENTE largo entre as orelhas;

 

   Stop RELATIVAMENTE marcado. Sulco frontal             NÃO muito profundo;

 

* A proporção entre o comprimento do focinho e o comprimento do crânio é de aproximadamente de 1 a 1,5;

 

* Pescoço forte, moderadamente LONGO, com linha superior ligeiramente arqueada, seco e sem EXCESSIVA barbela (pele solta);

 

FALTAS:

 

* CABEÇA: pesada ou cabeça EXCESSIVAMENTE MOLOSSÓIDE e crânio EXCESSIVAMENTE AMPLO. Stop muito pronunciado e sulco frontal muito profundo;

 

FOCINHO: muito CURTO, ou seja, mais curto do que 40% do comprimento da cabeça;

 

MORDEDURA: também teremos falta quando os molares da mandíbula não se perfilarem em linha na mandíbula. Isto ocorre quando a cabeça é desproporcional, com focinho curto.

 

FALTAS GRAVES:

 

* APARÊNCIA GERAL: rottweiler tipo MUITO MOLOSSÓIDE E APARÊNCIA GERAL PESADA;

 

*PELE: pele intensamente ENRUGADA na cabeça, rugas pronunciadas na área da testa, no focinho e nas bochechas. Barbela nítida.

 

MOVIMENTAÇÃO: ação LENTA durante o trote.

 

 

Desta forma, podemos dizer que é incompreensível o rumo que se está dando à criação da raça rottweiler, até mesmo em um contexto mundial.

 

Tudo isso se deve a opções comerciais de alguns canis do Leste Europeu, mais especificamente da Sérvia.

 

Lamentavelmente, nas exposições, os árbitros se mostram tolerantes com estes desvios rácicos, pois não desejam desagradar os criadores "famosos" e desejam continuar sendo chamados para futuras exposições.

 

Por outro lado, alguns árbitros são ou já foram criadores da raça, estando "contaminados" por este falso padrão de beleza.

 

Como se sabe, o padrão oficial da raça é a nossa "lei da criação". Se cada um criar direcionado a seu gosto pessoal, as raças caninas desaparecem e os animais já não mais poderão desempenhar a suas úteis funções (trabalho).

 

Terminamos gritando:

 

Rottweiler com olhos frontais, redondos e esbugalhados (cabeça de Pug), NUNCA MAIS!!!

 

Rottweiler assemelhado a Mastiffs, NUNCA MAIS!!!

 

Nada contra estas raças caninas, mas são OUTRAS raças caninas ...

 

Afranio Silva Jardim, criador das raças dogue alemão e rottweiler – CANIL JARDIM SILVA

 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog