(filhote da nossa criação - 5 meses)
A CABEÇA DO ROTTWEILER E OUTROS TEMAS:
EM ANATOMIA CANINA, O IMPORTANTE É A HARMONIA E A MODERAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS
DOS INDIVÍDUOS.
Em várias raças, os criadores dão
especial atenção às cabeças, buscando, cada vez mais, exemplares com cabeças
muito grandes. Os árbitros acabam, de forma indireta, endossando esta anomalia.
Muitas vezes, o padrão da raça possui
expressões de conteúdo não muito determinadas. Assim, os criadores e árbitros
dão interpretações que se assemelham ao seu gosto pessoal.
Ora, no cão, nada deve ser
desproporcional, desafiando a física mecânica. A cabeça muito volumosa desloca
o centro de gravidade para a frente do cão, criando um desequilíbrio que vai
prejudicar o seu desempenho, a sua movimentação.
Uma cabeça maior do que a recomendada
vai exigir um pescoço mais curto e grosso, características muitas vezes
repelidas pelo padrão rácico. A cabeça muito larga acaba por desalinhar os
dentes molares o que também contraria o texto do padrão oficial do rottweiler.
Ademais, o padrão da raça repele
expressamente o focinho curto e “arrebitado”, o stop muito acentuado, bem como
a existência de rugas na cabeça em geral. Isto está ligado inclusive à saúde do
rottweiler.
Notem ainda que a propulsão dos cães
é feita pelos membros posteriores, que vão “patinar” com o peso do exemplar
deslocado para a parte dianteira, prejudicando a necessária força propulsora.
Isto também sacrifica os membros dianteiros, que passam a ter de suportar peso
indevido.
Por derradeiro, este desequilíbrio
prejudica o dorso do cão ou mesmo toda a sua linha superior. Se a coluna ou
viga não for reta e firme, fica prejudicada a transmissão da força de propulsão
que vem dos membros traseiros.
Enfim, tudo acaba se refletindo e
prejudicando a movimentação e a resistência física do cão.
Nós, criadores, não estamos
percebendo que as cabeças dos nossos rottweilers já estão muito maiores do que
o desejável. Os focinhos estão muito curtos e já estamos com eles nos
acostumando!!! Eu mesmo, confesso, já não tenho a mesma repulsa de antigamente
...
Os juízes também sofrem, sem perceber,
esta indesejável influência. Todos precisam ter esta consciência, sob pena de alterarmos
a morfologia de nossos rottweilers, descaracterizando a formidável raça.
Na verdade, não aceitamos a
famigerada "cabeça de touro”, mas estamos, sem perceber, criando cães com
cabeças muito largas e com focinhos curtos.
Em nossa criação, vamos procurar
resgatar o verdadeiro rottweiler, vale dizer, o rottweiler clássico, elegante,
de proporções corretas, expedito e ágil, sem anomalias e modismos.
Vejam o que escrevi ao comentar a
foto de um rottweiler de nossa criação, hoje com 9 (nove) meses.
Zeus Zeus do Jardim Silva está muito
próximo do que procuro na criação de rottweilers. A sua irmã de ninhada, Têmis
Zeus do Jardim Silva está ainda mais correta e será analisada oportunamente
(ambos estão na foto). Eles são muito parecidos, pois são resultantes de dois
“line breedings).
Sem os nefastos e comerciais
modismos, não deve se tornar “excessivamente molossóide”, característica
gravemente repudiada pelo padrão da raça.
Zeus Zeus não tem rugas na testa e na
cana nasal; deverá ter pouquíssimas barbelas; sua cabeça não é muito larga,
permitindo o correto alinhamento de seus molares; Stop moderado e focinho não
curto, paralelo ao crânio, com proporções desejadas pelo padrão rácico; Olhos
amendoados e não muito frontais; mordedura correta, sendo escuro o interior de
sua boca. Não tem ele pescoço curto, possuindo um leve arqueamento.
Zeus Zeus do Jardim Silva também tem
inserções corretas de pescoço, orelhas e causa. Linha superior correta e
excelentes angulações, principalmente dos membros posteriores. Até agora, ele
tem demonstrado excelente temperamento, o que é muito importante.
Apenas ainda não tem bons aprumos,
com metacarpos um pouco cedidos, e seria aconselhável olhos mais escuros. Já o
interior de sua boca é bem escuro, conforme desejado pelo padrão oficial.
Enfim, não deve se tornar em uma
“máquina”’ou “tanque”. Será um verdadeiro Rottweiler, amigo e amado por nós.
Sobre
este aspecto, tenho ouvido de alguns criadores que eles gostam de rottweilers
pesados. Disseram eles: “pesados, mas dentro do padrão” rácico (sic).
Ora,
o padrão da nossa raça diz expressamente
ser falta grave a “aparência geral
pesada”, devendo pesar o exemplar cerca de 50 quilos, os machos, e 42
quilos, as fêmeas.
O
padrão penaliza também o stop “muito pronunciado” e “cabeça excessivamente molossóide; crânio excessivamente amplo”.
Ora,
como podem dizer então que gostam de cães pesados dentro do padrão, se o
próprio padrão da raça repudia os rottweilers pesados???
Todos
sabemos que o importante não é o gosto pessoal do criador ou do juiz. O
importante é ser fiel ao padrão, sob pena de termos “várias raças de
rottweilers” ... Sempre repetimos isso!!!
Como
sabemos, eles devem ser um cão ágil, apto a pular obstáculos e se movimentar
com desenvoltura, tudo com vistas a exercer a função de guarda.
Enfim,
talvez precisemos corrigir alguns rumos em nossa criação. O perigo é que,
acostumados com estes cães pesados, não os achemos pesados ...
O TEMPERAMENTO: ANSIEDADE NÃO É
DESEJADA PELO PADRÃO DA RAÇA ROTTWEILER!!!
Não
me parece adequado criar uma espécie de “reflexo condicionado” em nossos
rottweilers, que ficam extremamente ansiosos e desesperados diante de uma bola
ou outro objeto, freneticamente exibido e jogado ao chão de forma reiterada,
tudo como forma de nele despertar atenção extrema e provocar uma postura
corporal que demonstre algumas de suas “qualidades”, malgrado o desalinho de
toda a parte traseira e superior do exemplar.
Julgo
que isto acaba “escravizando” o animal, nele despertando ansiedade desmedida.
Acho que devemos procurar que nossos cães
sejam equilibrados, serenos, seguros de si e felizes. Ansiedade não é felicidade.
A atenção e expressão do cão devem conviver com altivez e equilíbrio. Cão feliz
é “cão com qualidade”, apto a bem demonstrar suas qualidades morfológicas.
Parece-me
que não precisamos copiar tudo o que ocorre em clubes especializados da
Alemanha ou outros países europeus. Temos identidade própria e uma realidade
diversa.
Desta
forma, seria muito bom que os árbitros imprimissem uma dinâmica diversa nas
exposições especializadas da nossa raça, procurando estimular os criadores a
não criar ou incentivar esta danosa “fixação” em nossos amigos rottweilers.
Eles
devem ser cães corajosos, serenos, seguros da situação em que estão inseridos,
equilibrados e atentos, tudo para que melhor possam desempenhar a função de
guarda e sejam mais felizes.
Cães
felizes são aqueles que deitam serenamente ao lado de seus cuidadores e com
eles se relacionam com total equilíbrio. Isto não tem nada a ver com
fragilidade de temperamento. Eles podem ser exibidos e examinados pelos
árbitros de forma tranquila e serena, sem desesperos e até desatinos ...
SOBRE A NOSSA CRIAÇÃO NÃO COMERCIAL:
Se a vida se faz de emoções, como
dizem alguns, tenho de dizer, com o poeta e prêmio Nobel Pablo Neruda:
"Confesso que vivi" (importante autobiografia).
Os cães sempre estiveram comigo e
muito têm me emocionado, (não compreendo como alguns criadores conseguem negociar
ou se afastar dos seus cães adultos, pois eles sofrem muito com esta indesejada
separação). Acho que não devemos fazer sofrer estes nossos amigos permanentes e
incondicionais. É como separar um(a) filho(a) de seu pai ou sua mãe ...
Por vários anos, (2005/2013), fomos
os melhores criadores do Brasil da raça Dogue Alemão, (variedade
dourados/tigrados), desenvolvendo uma prática, na criação e exposições,
absolutamente ética.
Agora, voltamos à cinofilia criando
rottweilers, em um ritmo bem mais "devagar".
Julgo relevante que, com algum
conhecimento de genética animal, se criem verdadeiras linhagens (linhas de
sangue), fixando no plantel as corretas características da raça, segundo padrão
adotado pela FCI e CBKC. Para tanto, devemos utilizar na criação acasalamentos
entre parentes colaterais ("line breeding"), conhecendo muito bem o
genótipo dos exemplares utilizados.
Como nos dizem a genética e a
estatística, através do "line breeding", fica mais fácil conseguir
exemplares que sejam homozigotos, em genes dominantes, nas características
rácicas desejadas. Assim, tais boas características passarão necessariamente à
sua prole.
Precisamos, ainda, combater os
nefastos modismos, muito influenciados pelos deletérios interesses comerciais.
Neste particular, critico aqueles que
estão desenvolvendo uma cabeça disfuncional no rottweiler (grande, larga e com
focinho curto, o qual exige um pescoço grosso e também curto, com barbelas).
Rottweiler não é
"braquicéfalo" e mais se aproxima dos "mesaticéfalos",
consoante se depreende da reforma do padrão rácico de 24.07.2018.
Por ele, são faltas graves:
"tipo muito molossóide e aparência geral pesada", dentre outras
características expressamente vedadas pelo citado padrão, mas indevidamente
toleradas pela criação atual.
Do padrão oficial da FCI e CBKC,
ainda destacamos os seguintes itens, que bem demonstram como o "rottweiler
pesado" está descaracterizando a raça e tornando-o um exagerado
"molossóide", com grande dificuldade para as funções a que se destina
e também em prejuízo para a sua saúde.
Está escrito no padrão rácico:
Crânio de comprimento médio,
RELATIVAMENTE largo entre as orelhas;
Stop RELATIVAMENTE marcado. Sulco
frontal NÃO muito profundo;
A proporção entre o comprimento do focinho e o
comprimento do crânio é de aproximadamente de 1 a 1,5;
Pescoço forte, moderadamente LONGO,
com linha superior ligeiramente arqueada, seco e sem EXCESSIVA barbela (pele
solta);
FALTAS:
CABEÇA: pesada ou cabeça
EXCESSIVAMENTE MOLOSSÓIDE e crânio EXCESSIVAMENTE AMPLO. Stop muito pronunciado
e sulco frontal muito profundo;
FOCINHO: muito CURTO, ou seja, mais
curto do que 40% do comprimento da cabeça;
MORDEDURA: também teremos falta
quando os molares da mandíbula não se perfilarem em linha na mandíbula. Isto
ocorre quando a cabeça é desproporcional, com focinho curto.
FALTAS GRAVES:
APARÊNCIA GERAL: rottweiler tipo
MUITO MOLOSSÓIDE E APARÊNCIA GERAL PESADA;
PELE: pele intensamente ENRUGADA na
cabeça, rugas pronunciadas na área da testa, no focinho e nas bochechas.
Barbela nítida.
MOVIMENTAÇÃO: ação LENTA durante o
trote.
Desta forma, podemos dizer que é
incompreensível o rumo que se está dando à criação da raça rottweiler, até
mesmo em um contexto mundial.
Tudo isso se deve a opções comerciais
de alguns canis do Leste Europeu, mais especificamente da Sérvia.
Lamentavelmente, nas exposições, os
árbitros se mostram tolerantes com estes desvios rácicos, pois não desejam
desagradar os criadores "famosos" e desejam continuar sendo chamados
para futuras exposições.
Por outro lado, alguns árbitros são
ou já foram criadores da raça, estando "contaminados" por este falso
padrão de beleza.
Como se sabe, o padrão oficial da
raça é a nossa "lei da criação". Se cada um criar direcionado a seu
gosto pessoal, as raças caninas desaparecem e os animais já não mais poderão
desempenhar a suas úteis funções (trabalho).
Terminamos gritando:
Rottweiler com olhos frontais,
redondos e esbugalhados (cabeça de Pug), NUNCA MAIS!!!
Rottweiler assemelhado a Mastiffs,
NUNCA MAIS!!!
Nada contra estas raças caninas, mas
são OUTRAS raças caninas ...
Afranio Silva Jardim, criador das
raças dogue alemão e rottweiler – CANIL JARDIM SILVA
Em tempo: vejam o vídeo, com a
ressalva de que não existem dois padrões da raça:
https://www.youtube.com/watch?v=KT4cmJVIlHQ

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