O
PADRÃO OFICIAL PUNE SEVERAMENTE O ROTTWEILER ANSIOSO E NERVOSO. ANSIEDADE NÃO
SE CONFUNDE COM FELICIDADE.
Por cerca de dezoito anos, criei dogues
alemães, com bastante sucesso, em um contexto bem diferente. Meu canil se
encontra registrado na CBKC desde o ano de 2000 (Canil Jardim Silva).
Bem
mais tarde, comecei a criar também cães da raça rottweiler. Isso me permite
aguçar o meu olhar crítico e questionar algumas práticas já incorporadas à
“cultura” de muitos dos criadores de rottweilers, práticas estas que não ocorrem
nos treinos e exposições de dogues alemães, ao menos,’ com tanta repetição e
intensidade.
Espero
ser bem compreendido, o que não me escusa de críticas, que espero serem de alto
nível. Quero contribuir, quero construir e não destruir!!!
O
meu novo questionamento é o seguinte: não me parece adequado criar uma espécie
de “reflexo condicionado” em nossos rottweilers, que ficam extremamente
ansiosos, nervosos e desesperados diante de uma bola ou outro objeto, freneticamente
exibido e jogado ao chão de forma repetida,
por inúmeras vezes.
Assim se procede com o escopo de despertar, no
cão, uma atenção extrema, nele provocando uma postura corporal que demonstre apenas
algumas de suas “qualidades”, malgrado o desalinho de toda a parte traseira e da
linha superior do exemplar. Uma bonita expressão facial no rottweiler não
dispensa a constatação de outras qualidades que ele deva possuir ...
Julgo
que esta costumeira prática acaba “escravizando” o animal, nele despertando
ansiedade e nervosismos desmedidos, os quais podem até mesmo prejudicar o
bem-estar do cão. Notem que o bem-estar do rottweiler é uma grande preocupação
expressa no padrão rácico oficial.
Acho que devemos procurar que nossos cães
sejam equilibrados, serenos, seguros de si e felizes. Ansiedade não é
felicidade. A atenção e expressão do cão devem conviver com altivez e
equilíbrio. Cão feliz é “cão com qualidade”, apto a bem demonstrar naturalmente
as suas qualidades morfológicas.
O
citado padrão oficial exige que o rottweiler seja “amigável e pacífico”, “autoconfiante”,
corajoso e possuidor de “nervos firmes”, qualidades que se resumem em uma
palavra: “equilibrado”.
Parece-me
que não precisamos copiar tudo o que ocorre em clubes especializados da
Alemanha ou outros países europeus. Temos identidade própria e uma realidade
diversa em nossa cinofilia.
Desta
forma, seria muito bom que os árbitros imprimissem uma dinâmica diversa nas
exposições especializadas da nossa raça, procurando estimular os criadores a
não criarem ou incentivarem esta danosa “fixação” em nossos amigos rottweilers.
Eles
devem ser cães serenos, seguros da situação em que estão inseridos,
equilibrados e atentos, tudo para que melhor possam desempenhar a função de
guarda e sejam mais felizes.
Cães
felizes são aqueles que deitam serenamente ao lado de seus cuidadores e com eles
se relacionam com total equilíbrio. Isto não tem nada a ver com fragilidade de
temperamento.
Julgo
que cães equilibrados fazem melhor guarda e melhor podem ser exibidos e
examinados pelos árbitros nas exposições, tudo de forma tranquila e serena, sem
desesperos e até desatinos ... (Neste particular, não me parece recomendável e
útil a tendência de alguns árbitros de exigirem trotes muito acelerados e por
longas distâncias).
Cães
que precisam destes estímulos, ou que somente mordem a luva de um “figurante”
(treino de trabalho), talvez não sejam os mais aptos para uma guarda eficiente,
confiável e segura ...
Evidentemente,
não tenho a ingênua pretensão de mudar uma prática tão arraigada em nosso meio.
Entretanto, uma reflexão crítica é sempre útil e pode mitigá-la a médio prazo.
Afinal,
como está dito na música cantada pela saudosa Mercedes Sousa, “tudo cambia”
...
https://www.youtube.com/watch?v=0khKL3tTOTs
Afranio
Silva Jardim, criador de dogues alemães e de rottweiler.
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